11-A produtividade tóxica é uma realidade em nossa sociedade. Jargões e clichês disfarçados de viés motivacional, como “trabalhe enquanto eles dormem”, ilustra bem essa questão, concorda? Quais os perigos e o quanto é nocivo levar tais sentenças como verdadeiras?
Sim, frases de efeito como essa falam muito da falta de empatia e visão real de mundo de algumas pessoas. Essa e tantas outras são frases que individualizam um problema coletivo, e em um país desigual como o nosso, nem que todos trabalhassem enquanto alguns dormem, a realidade seria igualada.
Mas se quisermos mesmo assim individualizar, posso dizer que se você trabalhar enquanto eles dormem, em pouquíssimo tempo você estará com sua vida em risco.
12-Ao seu ver, quais os principais fatores capazes de impactar negativamente a produtividade e a qualidade do trabalho dos colaboradores e como lidar com esse desafio?
São vários, por exemplo: a forma como as empresas reconhecem e valorizam seus funcionários, como se posicionam diante de injustiças e comportamentos abusivos, como suportam seu ecossistema e colaboram para um mundo mais equilibrado, como se posicionam diante de políticas de diversidade e equidade, de tolerância zero com práticas humilhantes e constrangedoras que desaguam em assédios dos mais variados, de flexibilização da rotina de trabalho, de políticas de respeito (refletindo nas escolhas de negócio – reputação), de precarização do trabalho (carga horária, descrição/escopo de trabalho etc), e tantos outros.
Como lidar tem a ver com o quanto essa empresa está disposta a transformar suas crenças, seus processos, rituais e símbolos.
13-Gerar conexão com as pessoas é uma habilidade capaz de trazer ótimos resultados. No trabalho em equipe, quais fatores o líder deve considerar para conquistar essa conexão com seu time e otimizar assim o alinhamento da equipe e a produtividade e felicidade no trabalho?
Como funciona a rotina dos integrantes da sua equipe? Onde eles moram? Qual a origem daquelas pessoas? O que é importante para elas? Como chegaram até ali? Quais os sonhos e planos que elas têm? Do que gostam? Existe um ou mais interesses em comum?
14- Gestão de conflitos na empresa pode ser algo extremamente desafiador. Como a comunicação não violenta pode ser utilizada para mediar e solucionar conflitos no ambiente corporativo?
A Comunicação Não Violenta é uma pesquisa iniciada há mais de 50 anos pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, com base nos princípios de não violência vivenciados por Gandhi e na abordagem empática de Carl Rogers. A CNV tem auxiliado pessoas em todo o mundo a resolverem conflitos internos e externos ligados a comunicação, aprimorando suas relações interpessoais e sistêmicas. É uma aprendizagem mais artesanal do que acadêmica. É querer cuidar da vida nos âmbitos intrapessoal (olhar para si), interpessoal (olhar para o outro) e sistêmico (olhar para o mundo).
A CNV não é uma técnica e nem passos que precisam ser seguidos. O foco da comunicação não violenta é a CONEXÃO.
“A CNV conecta a alma das pessoas, promovendo sua regeneração. É o elemento que falta em tudo o que fazemos.” Deepak Chopra
“A CNV é um modo de ser, de pensar e de viver. Seu propósito é inspirar conexões sinceras entre as pessoas de maneira que as necessidades de todos sejam atendidas por meio de doação compassiva. Elas nos inspira a nos doarmos de coração e nos ajuda a nos conectarmos com nossa divindade interior e ao que existe de mais vivo em nós.” Marshal Rosenberg
15-Como a inteligência positiva pode ser utilizada para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores de uma empresa?
Não ouvi falar desse conceito/assunto.
16-Hoje muito se fala acerca das competências e habilidades para liderar. Diante de sua extensa bagagem e experiência, quais são os atributos que compõem um líder de verdade, aquele ser humano, sem romantizar? O que um profissional que almeja ocupar essa posição deve considerar para atingir esse objetivo e o que aquele que já chegou ao posto precisa fazer para evoluir e melhorar, para se tornar uma referência e inspiração para o time?
Seja disponível e acessível, reconheça seus limites, suas dúvidas, seus medos e compartilhe. Esteja disposto a exibir falhas, peça ajuda, destaque erros como oportunidades de aprendizagem, use linguagem não violenta, de conexão, deixe claro limites.
Saber que essa é uma posição de muita responsabilidade e privilégio, e que será necessária uma entrega humana, genuína e vulnerável para realmente transformar.
Seguir aprofundando em aprendizagens de diversos níveis, principalmente pessoais e relacionais.
17-Em suas palestras sobre motivação, como você aborda o tema e quais estratégias são mais eficazes para motivar as pessoas no ambiente de trabalho?
Não faço palestras sobre motivação, falo sobre autoconhecimento como potência, como forma de aprendizagem para escolhas mais conscientes. Escolhas essas que são necessárias (e cada vez mais desafiadoras) para as posições de liderança, em um mundo BANI.
Minha abordagem se dá a partir toda minha experiência como executiva de alta performance, psicóloga organizacional, acionista, professora e estudiosa dos temas da saúde mental organizacional, desenvolvimento de liderança e impacto social.
As estratégias mais eficazes têm a ver com ferramentas de autoconhecimento, inteligência emocional, segurança psicológica de times, ética e governança.
18- Como o autoconhecimento pode influenciar o desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos?
O autoconhecimento é o processo de conhecer a si mesmo, o que nos ajuda a fazer escolhas mais conscientes e compatíveis com quem somos e com o que queremos. Tanto na vida pessoal como na vida profissional, conhecer a si mesmo significa viver com mais autenticidade e, consequentemente, com mais verdade e satisfação.
19- Manter seus melhores talentos na empresa e evitar o turnover é possível? De que maneira?
Sim. Acredito que essa resposta seja um compilado de tudo que falamos até agora.
20- Quais as principais ferramentas que devemos trabalhar para melhorar a comunicação na empresa?
Não diria que são ferramentas a serem trabalhadas – seriam se estivéssemos falando de e-mail corporativo, mural digital, teams, zoom, jornal, mas não é o caso – e sim habilidades. Neste caso, para mim, são as habilidades conectadas à pesquisa de comunicação não violenta, que reforça a relevância da conexão e vínculo. São elas: observação sem julgamento, lidar com sentimentos e emoções, reconhecer as necessidades e saber pedir.
(Continua…)