Palestras de Sucesso entrevista Ari Brito

1- O medo de falar em público é comparado, sem exagero algum, com o medo da morte. Quais são os principais fatores que desencadeiam esse medo avassalador? E, afinal, é possível vencer o medo de falar em público? Quais as melhores estratégias para lidar com o pavor de se expor e se comunicar?

Sem dúvidas o medo de falar em público é muito forte porque é um momento que deixa a pessoa totalmente vulnerável, exposta aos demais e num momento imprevisível. E isso, aciona o lado mais primitivo do cérebro que é o instinto de preservação. Desde os homens das cavernas sabemos que para evitar os predadores nos escondíamos nas cavernas para não ser devorados, então é natural querermos nos esconder. Naquela época, quando sentíamos perigo, o cérebro produzia adrenalina para nos deixar atentos e isso por causa do medo. 

Então sentir medo não é ruim como muitos acham, é uma forma que o cérebro cria para nos proteger. A questão é que no mundo moderno não podemos nos esconder. Uma das principais competências do mundo moderno é a clareza na comunicação. Então deixar de lado o cérebro primitivo e acionar o neocórtex é fundamental para potencializarmos nossas vidas e carreiras. 

Eu gosto de trazer alguns pontos emocionais que desencadeiam esses medos, um deles e para mim o mais importante é chamado de cérebro reativo. É quando recebemos estímulos negativos, em geral na infância, e que nos bloqueiam por muitos anos. Uma criança que quer falar para os pais quando criança e os pais falam “fica quieta que os adultos estão conversando, não atrapalha” causa uma reação de bloqueio e toda vez que a pessoa pensa em falar em público pensa naquela bronca e acaba não falando, então o cérebro reativo faz com que queiramos evitar aquela situação para evitar broncas ou desconfortos. Outro valor emocional muito forte é o reconhecimento. Ficamos buscando aceitação e reconhecimento das outras pessoas e em geral quando vamos falar em público fica a sensação de que precisamos da aprovação das pessoas, e isso gera um peso emocional muito maior do que é a situação em si.

Por tudo isso, ao explicar essas situações todas e apresentar de forma clara, as pessoas percebem que o medo e receio de falar em público tem muito mais a ver com o nosso emocional e nossas experiências anteriores do que efetivamente aquele momento, então eu proporciono um esvaziamento emocional da situação em si e isso acaba facilitando a compreensão do seu papel como orador. No final, comunicação é uma habilidade e se praticada muitas vezes com esse olhar consciente, as pessoas conseguem resultados excelentes. Tenho 100% de aceitação na técnica e com muitos alunos que se transformaram em grandes oradores. A melhor forma de encarar a situação de falar em público é adotar a estratégia de tirar o peso emocional do momento, entendendo que é uma situação corriqueira e precisa ser praticada até ter uma qualidade desejada. Imagine que você não é o centro das atenções, o assunto é. Você é apenas um facilitador. Esvazie o momento, invés de valorizar e se isso não for suficiente, pense que não estamos mais nos tempos das cavernas.

2- Negociar é fundamental na esfera corporativa, nas vendas e no mundo dos negócios em geral. O que um profissional que busca atuar em alta performance pode fazer para se comunicar e negociar com mais confiança e assertividade?

Eu diria que conhecer suas capacidades e competências em primeiro lugar. A maioria entra numa negociação sem enxergar isso, então acaba desvalorizando seu potencial. Numa negociação você tem que conhecer e acreditar no seu “produto”. A maioria das pessoas que passam pelas minhas palestras mal conhecem os seus pontos fortes e vivem no improviso, às vezes acertam, às vezes não. Outra questão é se preparar para aquele momento. Entrar numa reunião sem saber o que vai ser é sinônimo de fracasso. Eu preciso conhecer as necessidades do meu interlocutor. Hoje em dia o acesso às informações dos outros está muito acessível, então não dá para iniciar uma reunião sem saber sobre o outro. Se eu souber suas necessidades e entender que meu “produto” pode atendê-las, tenho mais chances de sucesso. Um ponto simples que costumo usar como exemplo são os canais de comunicação. Todo mundo sabe que existe uma predominância entre os canais visuais, auditivos e cinestésicos. Então se eu for defender uma ideia para um visual tenho que apresentar algo maravilhoso e falar menos, se o outro for auditivo, pouco vai importar o material e sim minhas explicações e finalmente o cinestésico vai se sentir seguro com um test-drive do produto, porque ele aprende fazendo, então se perceber que meu interlocutor é cinestésico oferecer um período de teste, ou até fazer uma demonstração juntos vai potencializar minha negociação em muitas vezes. Para mim assertividade é conhecimento daquela situação, por isso tenho visto profissionais experientes se frustrando por excesso de confiança, se achar que já são perfeitos não se preparam e aí que mora o perigo. Conhecer é se preparar, e isso muda os resultados infinitamente.

3- Certamente, a falta de conexão com o time e a dificuldade de exercer o poder de influência, são dores comuns quando pensamos em liderança, concorda? Como um líder pode reverter tais quadros na empresa e gerar mais comprometimento e engajamento do time?

Eu tenho uma visão muito simples sobre influência, que vem do Mindfulness, da Atenção Plena. Se eu não souber enxergar e escutar meu time eu não vou saber influenciar, mais do que saber o que falar e como falar é entender porque aquilo que vou falar é necessário. Muitos líderes falam muito bem, mas não influenciam, porque embora falar é importante, se comunicar é mais do que a fala em si, é perceber o todo, sentir o clima da equipe, suas dores e às vezes consigo escutar. Quantas vezes os líderes fazem pesquisas e ouvem as pessoas, mas não escutam o que eles estão dizendo. Escuta consciente é perceber as entrelinhas, pra isso preciso estar com “atenção plena” na minha liderança. A conexão existe quando o líder demonstra essa conexão, parte dele. Querer um time comprometido e falar isso o tempo todo, mas não demonstrar é mesmo que nada. Eu gosto de pensar que a melhor forma de falar algo é fazendo. Se eu respeito as dores do meu time e coloco humanidade na minha liderança, eu tenho resultados diferentes. Somos seres emocionais, cada pensamento gera uma reação emocional, então alinhar os pensamentos do time, deixando claro o propósito do grupo é fundamental. Quando um líder faz isso, ele tem o time na mão, sabe dos potenciais de cada um e como cada um deles pode contribuir para a realização dos resultados, da entrega, aí o time se torna engajado. Tenho visto profissionais abandonando empresas e/ou funções após a pandemia simplesmente por não enxergar um propósito naquele lugar.

4- O feedback ocupa lugar de destaque nas relações de trabalho. Quais técnicas podemos utilizar para desenvolver um feedback 360°? Quais benefícios para a equipe, liderança e empresa em geral? 

Eu trago a experiência da Psicologia Positiva para falar desta ferramenta, que é o “Flow”. O Flow é a capacidade de alinhar competências e habilidades com os desafios. Para mim a autoavaliação passa por uma consciência de que momento o profissional está em sua carreira e principalmente das atividades que está exercendo naquele momento. Quando penso na avaliação integral, dos parceiros vertical e horizontalmente e de sua própria leitura passa por isso. Às vezes, o profissional não enxerga seu papel no time ou não tem consciência de suas deficiências para exercer aquela atividade e isso faz com que haja uma ansiedade, um estresse onde não precisaria existir, claro que esse sentimento de frustração causa ambientes tóxicos, porque não reconhecer suas fraquezas gera falsas expectativas. Aí quando eu consigo uma leitura de outros profissionais que estão me enxergando melhor, e eu tenho a sensibilidade de olhar para aquela “dor” é o momento que estou preparado para melhorar. Se for pelo olhar da ferramenta do CHA, por exemplo, às vezes eu tenho Conhecimento e Habilidades para realizar aquilo, mas está faltando Atitude, e o time pode me ajudar a enxergar isso. Vamos para os benefícios disso, quanto o profissional cresce ao ter esse feedback e o quanto ele faz o time crescer. O papel do líder atualmente é ser um coach, um facilitador, então cada profissional da minha equipe que se descobre, que se reconhece, torna o time melhor e mais competente, trazendo benefícios excepcionais para a empresa. Oferecer condições para os profissionais se reconhecerem é o detalhe dos times excelentes. Conhecer os “hard skills”, mas principalmente os “human skills” (ou soft skills) é fundamental para o resultado de um bom feedback 360º .

5- No contexto atual, cada vez mais notamos a importância do profissional se empoderar das técnicas de apresentação e oratória, fatores que você mostra total domínio. Conta para a gente, no quanto a oratória pode impactar na vida e na carreira de uma pessoa? Como é possível aprimorá-la, quais os principais passos a adotar neste sentido? 

Segunda a Harvard Business Review, a Clareza na Comunicação é uma das principais competências do século XXI, e é mesmo. Vivemos no mundo da comunicação, a televisão já tinha mostrado isso pra gente, mas quando veio a internet isso se consolidou, porque todos viramos formadores de opinião, é só ter conteúdo e habilidade de comunicação para isso acontecer. Deixamos de ser receptores ordinários para virar “stakeholders” (públicos de influência). Com o Smartphone a informação veio para a palma da mão, então os “comodities” que o professor entregava em sala de aula, de uma época que só ele detinha informação, se transformou em compartilhamento de conteúdo, de informações com valor. Então o professor virou um facilitador, que precisa se comunicar com propriedade, porque a informação está na rede, mas eu vou busca-la com quem melhor souber me entregar na minha linguagem, e isso é oratória. Eu dou exemplo do professor, mas está em todas as áreas. Porque eu vou fazer negócio com alguém que me entrega um produto sem valor, se tem alguém que consegue agregar valor com o mesmo investimento. Então quem detém informação, mas não sabe passar, vai morrer com essa informação. Se levarmos para o campo profissional é ter uma pessoa que conhece, mas que sabe fazer e vai além, sabe ensinar aos demais, deixa claro como fazer ou como não fazer. Isso muda o mundo corporativo porque teremos profissionais em diversas instâncias com perfil de líder, desde o chão de fábrica até a alta administração. Não dá mais pra ter um simples operário realizando uma tarefa repetitiva sem inteligência, isso vai ser substituído por máquinas, ou inteligência artificial. Os profissionais de todas as áreas vão ser solicitados a liderar, a compartilhar conhecimento e a base disso é a comunicação. E pra mim a comunicação é uma habilidade, a gente treina, aprimora. Eu quando comecei a lecionar, com meus medos da época, era muito pior do que hoje. Se hoje domino uma plateia de milhares de pessoas é porque um dia percebi que podia melhorar e não desisti. Então se posso hoje orientar uma pessoa, eu digo que treine, se coloque nas situações de oratória. Quando chamarem um voluntário para apresentar um trabalho, se apresente. Quanto mais você fala, melhor você fica. Os processos cognitivos que se aplicam à oratória vão aperfeiçoando a cada nova experiência. O cérebro aprende com as experiências. Comece em trabalhos voluntários, onde a cobrança é menor, não há necessidade de excelência, já que está ali voluntariamente, depois vai ocupando espaços no ambiente de trabalho até ficar mais forte para eventos mais importantes e que vai exigir mais da Inteligência Emocional. Um dos pontos principais para melhorar a oratória é a organização, então fazer um plano de evolução, com pontos que precisam melhorar, para provocar um olhar sobre aquilo. Por exemplo, eu falava com muitas gírias “tipo assim” “né” e conforme percebi fui tirando da fala, hoje quase nunca uso, fica imperceptível. Ou seja, treine, e melhore um pouquinho a cada experiência.

6- Os conflitos são uma constante no relacionamento interpessoal, sobretudo no mundo dos negócios. Como especialista no tema comunicação, quais suas orientações no sentido de fazermos os melhores acordos mesmo quando estamos diante de conversas difíceis e sob enorme stress? 

Sabe, eu penso que o grande problema dos conflitos nas relações está na falta de empatia, de se colocar no lugar do outro. O que não significa aceitar a posição do outro. E esse é um problema, muitas vezes as pessoas acham que se eu me colocar no lugar do outro vou estar cedendo, e é justamente o contrário. Se colocar na posição do outro às vezes é perceber uma forma de atingir o outro com argumentos que ele possa entender. Se eu me relacionar com alguém que se sinta vulnerável em relação a mim, por exemplo, essa pessoa vai ser mais intransigente por questões dela, de autoestima baixa muitas vezes. Então eu perceber isso, me dá uma possibilidade de empoderá-la e usar os seus argumentos a meu favor. Um ponto importante é a gestão das emoções, saber identificar se a comunicação está sendo assertiva ou simplesmente reativa, em geral por causa do ego. Tendemos a entrar numa negociação em busca de vitória, e a visão de que eu ganho o outro perde, como se fosse uma competição. Perceber isso, é pensar quais argumentos vou colocar na negociação para que ambos ganhem, e aí o ganha ganha não se trata de empate, mas sim de potencializar os dois resultados. Quando isso acontece o estresse já diminui bastante, porque a comunicação violenta é uma resposta a insegurança, ao ego ferido. Quando nos colocamos de forma adulta numa relação ou negociação não precisamos entrar para diminuir o outro, nem ficar pensando que o outro está ali para nós perdermos, só isso já esvazia os valores emocionais, que em geral atrapalham as conversas. Deixar a vaidade de lado vai ser primordial para as coisas acontecer. Outro ponto importante novamente é a atenção plena, quando eu estou escutando o outro e não só ouvindo. Aí percebo os detalhes e o quanto posso melhorar a minha entrega.

7- Mais do que um bom orador, vivemos na era dos facilitadores, correto? Dessa forma, um palestrante precisa ir além de simplesmente apresentar suas ideias, ele precisa, de fato, transformar realidades e impactar a vida das pessoas. E isso é algo que você tem feito de forma consistente no decorrer dos anos. Comente conosco alguns dos seus maiores cases de sucesso.

Ser facilitador é entender as dores dos outros, de quem está ali pra te ouvir. Se eu entender que um aluno da graduação não está ali pra assistir minha aula, mas sim ser profissional de determinada área muda tudo. Porque a aula, o conteúdo deixa de ser prioridade, como falei acima, informação está em todo lugar, o conhecimento não. Conhecimento vem quando aprendemos com a experiência, com o entender o sentido daquela informação. Enquanto você ler um livro ou assistir uma aula ou curso e for a mesma coisa, não ter porque eu querer estar em sala de aula, eu vou ler aquilo pela internet ou livro. Agora, o que motiva um aluno ou treinando estar ali é perceber algo mais, o professor quando se transforma em facilitador ele não só leva informação, mas transforma em conhecimento, em experiência, e aí, nenhum livro do mundo vai fazer tão bem assim. Imagina se todo mundo tivesse um livro para ficar rico, o mundo seria próspero e todos milionários. O que acontece então é que ao ler ou assistir um conteúdo simplesmente não é o suficiente para transformar. A pessoa tem que vivenciar a experiência, entender que às vezes ela vai autossabotar os resultados por questões emocionais e isso precisa vivenciar, não só tocar no conteúdo.

Nas palestras e cursos de oratória eu vejo com frequência pessoas que já leram tudo sobre o assunto e continuam com dificuldades, por que? Porque não é saber que existem gatilhos que limitam a oratória, é saber aplicar, está na habilidade e não no conhecimento. O que chamamos de mindset é mais importante do que o conhecimento sobre o conteúdo. O que costumo fazer é aplicar o conteúdo de forma vivencial, a pessoa se sentir fazendo aquilo e se concentrar nos aspectos emocionais daquele momento. O cérebro reativo é muito forte, bem como as crenças limitantes, que estão na raiz do pensamento, o que faço é ir na causa do problema e fazer a pessoa colocar consciência disso. O resultado é espantoso, porque todos ali veem a mudança imediata quando isso acontece. Um exemplo, uma menina tinha dificuldade de falar ali na frente do grupo, morria de medo, aí expliquei tudo isso pra ela e fiz ela buscar dentro de si qual era o gatilho que fazia ela não querer falar em público. Ela identificou que não gostava de sua voz e um pouco de sua imagem pessoal. Quando fiz ela focar no que ela tinha de qualidade, que era o conteúdo que só ela poderia nos passar, ela percebeu que não precisava mudar a voz ou fazer plástica, ela entendeu que mesmo com uma voz feia ou aparência tímida ela poderia ser útil, olhei para o positivo. Ela foi lá e deu sua mini palestra. Anos depois ela se tornou uma grande professora e nem precisa dizer que hoje ela nem repara na sua voz e se produz completamente diferente. Em outras palavras, o que faço as pessoas perceberem nas minhas vivências é que numa equação entre as suas qualidades e suas fraquezas vai existir um intervalo de oportunidade para se colocar em público e obter um excelente resultado. Em geral, tenho tido 100% de aprovação na metodologia com resultados incríveis. Tenho colegas professores que foram meus alunos e hoje são excelentes professores, então a comprovação está no resultado de todos os meus alunos e treinandos que não pisavam num palco e hoje tem milhares de seguidores, viraram políticos e até apresentadores de TV.

8- Aplicar os conhecimentos e conceitos de Neurociência é a chave para conquistar a chamada “Clareza na Comunicação”?  Quais são os passos básicos neste sentido? 

Hoje tudo é neurociência, porque a sociedade está olhando cada vez mais para o comportamento. Desde Daniel Goleman, quando trouxe para o mundo das organizações a Inteligência Emocional e hoje com Antonio Damásio, Steven Pinker entre outros a neurociência, que é basicamente estudar o funcionamento do cérebro dentro de caminhos da educação, comportamento e comunicação, as pessoas estão mais preocupadas com isso. No mundo organizacional, os RHs estão cada vez mais investindo esforços para criar times com Soft Skills diferenciadas e reter talentos passa por isso. Eu apostar no desenvolvimento pessoal do meu colaborador é parte disso. Então, oferecer conhecimentos de como funciona a mente humana se torna base para melhorar a forma que as pessoas se comunicam e se relacionam. Trabalho em equipe e Relações Interpessoais deixaram de ser simplesmente competências para se tornar fundamentos de um time. Clareza na comunicação é entender as regras do jogo e conhecer os jogadores do time como ninguém, e claro, passa por conhecer em detalhes o outro time, os meus adversários. Então surgiu também o neuromarketing para refinar o conhecimento que temos do consumidor e a neurociência invadiu o mundo corporativo. Na prática, quem conhece seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, um com variável do anterior, vai ter mais possibilidades de se comunicar melhor. Os meus pensamentos acabam definindo meus sentimentos e por consequência meus comportamentos. Um colaborador que pensa que está lateralizado numa equipe, por exemplo, vai ficar triste, frustrado e com isso vai interagir menos com os demais, o seu comportamento muda completamente e os colegas vão achar que ele perdeu desempenho. A raiz disso? Um pensamento. Então investir na saúde mental e emocional do time é importantíssimo porque vai mudar a sua comunicação. Eu gosto de pensar que minha comunicação tem a ver como estão minhas emoções e o meu comportamento.

9- No núcleo das empresas, sabemos que o trabalho em equipe ocupa uma posição de destaque. Quais são os maiores dificultadores e desafios encontrados no trabalho em equipe? Como lidar com eles?

Trabalho em equipe é comunicação. Se não existe uma comunicação eficiente a equipe não se entrosa. Às vezes ficamos com a sensação de que o trabalho em equipe ineficiente é falha dos colaboradores, mas vamos começar pelo método. Pra mim organização e disciplina são fundamentais, então não adianta intenção se não criar processos que façam com que o time aconteça como um só. Buscar mecanismos de comunicação interna, hoje facilitados pela tecnologia, e alinhamento das regras. Já vi empresas que o diretor não respondia e-mails e a única forma de a equipe se comunicar com ele era por esse canal, nem precisa dizer o que acontecia, um monte de ruídos. A comunicação tem que ser prioridade, no conteúdo e na forma, passando pelo canal. Então criar um grupo de trabalho onde nem todos estão, ou não entendem o papel daquela ferramenta é o mesmo que não fazer. Agora quando falamos em trabalho em equipe, certamente a inteligência emocional é o mais importante. Pessoas com insegurança, com autoestima baixa provocam ruídos e coisas piores, com ambientes tóxicos, por exemplo. Se considerar que muitos dos problemas e conflitos internos acontecem por falha na compreensão, um mecanismo para evitar é ser o mais claro possível, por isso criar mecanismos para facilitar essa clareza melhor, e não engessar, mas facilitar. Falamos hoje em dia de metodologias ágeis, de encurtar processos para agilizar e facilitar isso tudo. Outro ponto é favorecer e até estimular os colaboradores a trabalharem sua inteligência emocional, seja com atividades como meditação, yoga, grupos de estudo ou até mesmo terapia.

10- Investir no potencial humano é uma ação cada dia mais relevante. Inegavelmente, com a questão da Covid-19, confinamento, e a pressão por resultados, ainda mais diante de um contexto pandêmico, alavancaram um extremo aumento de transtornos mentais e emocionais. Duas perguntas: 

a- Quais ações você acredita que devem constar dentre as iniciativas da empresa para contribuir com a saúde mental de seus colaboradores? 

Antes de mais nada, pensar num todo, se fizer uma ação isolada e tiver dentro da cultura da organização não vai adiantar nada. O que adianta propor um intervalo durante o expediente para meditação e o “chefe” gritar com todo mundo ou surtar. Então , investir realmente nisso é fazer um trabalho de melhorar a comunicação do time, com sessões de feedbacks para envolver os profissionais em suas dores. Aplicar grupos de estudo, com atividades lúdicas que vai desde jogos até atividades físicas. Meditação e Mindfulness, com técnicas de respiração e exercícios na própria empresa e estimular os profissionais a dar continuidade em suas casas. Oferecer janelas para que os profissionais possam se consultar em terapia e valorizar quem estiver investindo em sua saúde emocional.

b- Quais são as principais técnicas de meditação e Mindfulness dentro da Psicologia Positiva e como podem trazer alívio emocional aos colaboradores das empresas em contínua pressão?

Para mim Mindfulness é atenção no presente e isso é cada vez mais necessário, já que temos dispersão por conta de tudo o que aconteceu. Existem alguns tipos de meditação, uma delas é a pausa transicional, que serve para esvaziar a mente de um momento ou lugar para outro. Eu acabo de sair de uma reunião difícil ou atividade mais dura, e dou uma pausa para respirar e esvaziar a mente para a próxima atividade, não levando aquela situação e emoções que me geraram para o próximo evento. Vamos chamar isso de resiliência humana, mas sem essa pausa, a confusão acaba acontecendo e o desempenho vai diminuindo ao longo do dia. Então proporcionar essa prática para todos da empresa muda os resultados e os comportamentos dentro das relações. Uma outra questão é que está comprovado, pela neurociência, que uma pessoa que pratica a meditação e Mindfulness com frequência, acaba tendo mais adaptabilidade do que seus colegas, ou seja, aumenta a resiliência. Quanto mais meditamos, mais abertos estamos para mudar o estado emocional nas pressões.

11- Explica pra gente, como a organização e disciplina impactam no gerenciamento das atividades diárias e de que maneira um empreendedor, empresário, vendedor, professor, enfim, podem otimizar a gestão de tempo? 

Eu sempre penso lá dentro do cérebro, as trilhões de sinapses, conexões entre os neurônios, quando me fazem essa pergunta. Imagina que um neurônio precisa se conectar com outros tantos. Quanto mais claro for esse caminho, mais rápido vai ser esse processo. Aqui fora é a mesma coisa. Se você se organizar para suas atividades, arrumar um tempo pela manhã para uma atividade física, um tempo para se alimentar bem, um tempo para a família e organizar isso, colocando no papel, você já deu o primeiro passo. Aí entra a disciplina, que é pensar que se conseguiu uma vez vai conseguir sempre. Qual o problema? Os pensamentos e emoções que estão por trás de não fazer isso. Em geral, colocamos obstáculos no pensamento para nem iniciar o planejamento, muito menos fazer. É o que normalmente chamamos de zona de conforto. Se todo dia a gente já faz uma atividade e nos coloca numa posição de segurança, a mudança no mínimo vai trazer medo. E com o medo vem a resistência. Por isso, a força do hábito é tão forte, porque um hábito nos dá segurança. A gente já sabe o resultado. Por isso, quando falamos de mudança, propomos vivências para os treinandos de simplesmente fazer diferente, sem pensar nos resultados, aí quando a mudança ocorre, o comportamento vem junto, e depois com disciplina vem o novo hábito. Agora vamos falar sinceramente, a maioria das pessoas não muda porque as suas expectativas sempre são maiores do que a realidade. Começamos a fazer uma academia e já queremos ficar em forma. Começamos a investir ou economizar e já queremos ficar ricos no mês seguinte. Aí a pessoa ficou a vida inteira fazendo errado e com resultados ruins e quer em um ou dois meses alcançar resultados excepcionais. Com a frustração de não conseguir, vem o retorno ao estado anterior, àquele da zona de conforto que não gera expectativas nem frustrações. Então organizar-se passa a entender que só organizar não traz resultados, e disciplina sem organização também não. Se eu fizer errado todo dia, posso ser disciplinado, mas os resultados serão os mesmos. Em outras palavras, comece a priorizar as atividades que dão prazer e resultado no seu dia, e no dia seguinte faça o mesmo. Com o passar do tempo você não estará mais procrastinando, empurrando com a barriga seus projetos e realizações. A maior parte do tempo dedicamos a atividades que não gostamos, nem que geram resultado, mas que nos acomodam na nossa zona de conforto. E se perguntarem pra você, você vai dizer: “nossa trabalhei o dia todo hoje, que dia corrido” E foi verdade. Mas o que você realmente produziu de resultados? A resposta eu já sei. Nada!

12- Problemas de comportamento e relacionamento encabeçam a lista de motivos que levam as empresas a demitirem seus colaboradores. Diante desse cenário, quais as habilidades que você destacaria para alguém que deseja ser bem-sucedido, se aperfeiçoar, e ter relacionamentos saudáveis, tanto na esfera corporativa quanto na vida pessoal?

Empatia e compaixão. Aí claro, estou falando de dois comportamentos que estão dentro da habilidade de comunicação. Se colocar no lugar do outro e entender as suas dores é fundamental para evitar uma série de ruídos e por sua vez conflitos. Uma pessoa que escuta os outros tem muito mais chances de prosperar de se tornar alguém bem sucedido. Porque basicamente um profissional tem uma entrega em sua carreira, e em geral está relacionada ao que você vai entregar para quem está compartilhando sua jornada contigo. Então quando eu aprender com os outros, mas conseguir ensinar, eu tenho mais chances de crescer. A comunicação é vital para isso. Quando falamos de clareza na comunicação é o outro entender qual sua entrega. Ninguém vai me convidar para falar sobre engenharia, nem me pedir para resolver uma questão de arquitetura, porque sabem qual é o meu propósito. Quando as pessoas se aproximam de você sem expectativas é porque você deixa claro, o que pode entregar. Então esvazia a ansiedade e as frustrações. A maioria dos comportamentos tóxicos nas empresas se trata disso, de frustrações e expectativas mal resolvidas. Quando espero demais do outro ou alguém espera que eu faça algo que não estou preparado para isso, os conflitos acontecem. O mesmo na vida pessoal. A maioria dos relacionamentos acabam porque um esperava algo do outro que não veio. Aí o outro até tentou se moldar para salvar a relação, mas aí perdeu sua identidade e acabou afundando, o que gera também uma ruptura, porque o preço se torna muito alto para manter aquela relação. Nas empresas, a maioria das pessoas que estão se demitindo após a pandemia é por causa disso. Estavam numa relação que entregavam algo, mas que não fazia mais sentido para elas, fugiam do seu propósito. Com a proximidade do luto e da morte, vista durante a pandemia, isso ficou mais forte. Quanto tempo vou ficar fazendo algo que não tem a ver com minha identidade? Aí a resposta está aí no mundo inteiro, uma população mudando suas atividades principais para alinhar com seu propósito e diga se de passagem, às vezes até sem se preocupar com remuneração, sem saber se vão ter trabalho na nova fase.

13- Ari Brito, você comenta que o cérebro reativo influencia em nossa vida, priorizando as atividades para os outros e deixando as nossas de lado.  Dito isso, conta pra gente: como identificar um cérebro reativo, quais as maiores dores que ele nos traz e de que maneira podemos lidar com ele? Quais soluções e habilidades estão disponíveis para priorizarmos as nossas atividades? 

Tanto o cérebro reativo como o reconhecimento são mecanismos que focam no exterior, no outro. Eu recebo um estímulo por conta de alguém e isso pode me gerar um transtorno, um conflito. Quantas vezes buscamos agradar o outro e no final não somos reconhecidos gerando frustrações, da mesma forma recebemos estímulos em nossa infância que nos fazem tentar agradar os outros o tempo todo pra compensar isso. A melhor forma de identificar o mecanismo é perguntar se estamos fazendo isso ou deixando de fazer (na maioria das vezes) por causa de um desses estímulos. Em outras palavras é colocar consciência nas ações, nas atitudes. Eu ouvi num treinamento em 2015 de um rapaz, que ele tentava agradar todo mundo, porque ouvia do pai dele na infância que ele não prestava pra nada. Aí durante a vivência ele percebeu que ficou a vida toda prestativo, agradando os outros para provar que prestava para alguma coisa. Ou seja, o prestativo dele era o comportamento tentando provar para o pai (na sua própria mente) que aquela acusação não fazia sentido. Isso provocou nele uma procrastinação de seus próprios projetos e realizações, porque ele ficou a vida toda, até então, tentando agradar os outros. Quando colocou consciência nisso, focou nos seus sonhos e deixou de fazer tudo para todos, hoje ele gera um resultado incrível e está super bem sucedido. Então a melhor forma de mudar o cérebro reativo é colocar consciência no que fazemos e ressignificar naquele pensamento. Aí o sentimento muda e o comportamento vai ser outro. Quantos de nós não priorizamos nossas próprias atividades, para ajudar o outro. A pergunta que deve fazer é por que? Será que precisa mesmo fazer aquilo, ou focar nas suas coisas. Muito da procrastinação e autossabotagem vem desse cérebro reativo, por isso autoconsciência é material tão importante nas organizações, porque ter uma equipe consciente é conquistar os melhores resultados.

14- De que forma os conceitos de PNL podem contribuir para que se possa exercer uma liderança pautada em Comunicação Clara, Coragem e Humanidade, fazendo do líder um verdadeiro motivador e comunicador de equipes? 

Eu gosto deste conceito do neuropsiquiatra Paul Adler, de que liderança é pautada por este tripé, Coragem, humanidade e comunicação clara. Não tem como ser um bom líder se não conhecer os limites de cada um, isso passa por entender a humanidade de cada um, respeitar o outro. Ao mesmo tempo, a coragem de tomar as decisões que precisam ser tomadas. Muitas vezes tiramos uma pessoa da sua zona de conforto para o seu próprio bem, claro que isso remete ao resultado do time, mas acima de tudo pensar que sua autoestima melhora quando seu resultado melhora, então um professor que tem que reprovar ou repreender um aluno, está ali no papel de líder, para ele aprender a ser melhor, não para diminuí-lo. Aí entra a comunicação, saber estabelecer um “rapport”, uma empatia com o seu colaborador, com seu parceiro é vital para que as coisas aconteçam. A motivação vem de dentro, e eu entender isso, é refletir sobre o que motiva esse profissional. Nem sempre pagar melhor é a forma de reconhecer seu talento. Da mesma forma que o promover sem ter condições é jogá-lo num processo abortivo. Então estabelecer condições de que a comunicação aconteça com clareza é papel do líder, de quem está motivando. Aqui não se trata de ser um bom orador, mas de um bom comunicador, entender seu time. O líder no papel de comunicador é alinhar as pessoas para um resultado comum, que seja claro para todos, e isso sim, diminui os conflitos. Saber o mínimo de Programação Neurolinguística para falar no canal certo, da forma mais adequada, criar âncoras positivas em cada membro do time é liderar de fato. As técnicas de neurolinguística são ferramentas de quem tem um comportamento de liderança, não ao contrário. Não adianta ter técnica se não souber entender como usá-las. 

15- Quais são os tipos de liderança, quais as soft skills mais importantes para liderar e por qual motivo a Inteligência Emocional é considerada fundamental para alavancar a carreira, tanto de líderes quanto de colaboradores em geral? 

Existem vários autores e linhas que definem os perfis de um bom líder, podemos classificar os mais comuns são o líder autocrático, o famoso chefe, aquele que é o centro da empresa, e suas decisões são a base de tudo, neste tipo de liderança a equipe não é muito ouvida, e embora seja criticada, quando temos uma equipe inexperiente, talvez esse perfil seja útil para orientar com mais autoridade os caminhos. A liderança democrática é focada no grupo e ouve mais os colaboradores, mas nem sempre é aplicada, porque já vi empresas que defendem este tipo de liderança, mas na prática coloca a autoridade em primeiro lugar, ou seja, democracia só no planejamento estratégico. A liderança liberal, deixa a equipe mais solta, em geral quando já se conhecem melhor e já estão mais preparados para exercer essa liberdade. Agora existe um tipo de líder que é um facilitador, ele orienta a equipe para potencializar seu time. Em geral, faz o papel de coach do grupo, entendendo as necessidades e motivações de cada um do grupo. Ainda existem a liderança situacional, que o líder é colocado ali por um contexto, mas está mais vulnerável ao grupo, a liderança técnica que é praticado pelo conhecimento do líder, que todos seguem por ser o mais conhecedor das atividades do grupo, é respeitado pelos seus hard skills, e a liderança carismática que é praticada pelos líderes que possuem uma ótima comunicação, mas nem sempre possuem outras qualidades importantes para agrupar o time, depende de seu carisma e de sua imagem pessoal.

Quanto às soft skills eu sou suspeito porque vou puxar para a comunicação, sem ela as coisas não acontecem, é preciso dela para o time saber pra onde está indo e com quem está indo é a base pra o trabalho em equipe. Agora, ter uma boa administração do seu tempo, com uma boa definição de prioridades, saber o porque está fazendo aquilo é vital. Se você puder trabalhar com pessoas organizadas e disciplinadas você vai preferir, porque sabe onde está pisando e que as coisas vão acontecer. Ter o foco na solução dos problemas e não ficar procurando problemas é outro comportamento que buscamos, o pensamento crítico e a criatividade são ingredientes para que as coisas aconteçam nas empresas. Além disso, ter adaptabilidade para se ajustar aos contextos, muitos chamam de resiliência, mas flexibilidade é se posicionar dentro do necessário para que as coisas saiam da melhor forma possível sem estresse. E por falar em estresse, por último eu coloco a capacidade de sair da pressão, não a deixar diminuir sua produtividade. Ao contrário, fazer com que ambientes sob pressão sejam motivadores e realizadores. Ou seja, tudo isso estamos falando de inteligência emocional, de como conseguimos alinhar nossos pensamentos e emoções para buscar os melhores resultados e soluções para nossas vidas e carreiras.

16- Quais são suas dicas para:

Melhorar a postura profissional ao se comunicar?

Eu gosto de pensar que grande parte da nossa comunicação está no tom de voz e nas expressões corporais, então procure falar com tranquilidade, no tom de voz que passe segurança, sem correr, para não passar ansiedade. Ao mesmo tempo, procure gesticular reforçando suas palavras, sem exageros. A sua primeira impressão está na sua expressão corporal, então não deixe os ombros encolhidos, se apresente com uma postura de líder. 

Procure ouvir mais do que falar. Isso passa autoridade. Quando ouvimos aprendemos e também passamos segurança para os outros. Quem fala demais passa insegurança.

Ter uma comunicação mais assertiva e influente?

Treine todos os dias. Pense na oratória como uma academia é para a saúde física. Se todo dia se colocar numa posição de falar (e ouvir) sua comunicação vai se tornar mais fluente. Não deixe para os momentos de exposição oficial para treinar. Se tiver oportunidade de apresentar para amigos e pedir feedbacks vai perceber os detalhes, e por fim, se tiver a possibilidade de se gravar. Eu descobri muitos dos meus defeitos me assistindo. No início tinha até vergonha de ver meus vídeos, mas com eles fui aprimorando e ajustando os detalhes.

Falar com confiança e transmitir credibilidade?

Postura é expressão corporal, quanto mais melhorar sua postura, mais credibilidade vai passar. Tem pessoas com um vocabulário precário, mas que passam autoridade porque tem postura de líder, então pense em como pode melhorar seus gestos e expressões, inclusive as faciais para oferecer mais credibilidade.

 

Aprender a criar apresentações envolventes e de alto impacto?

Para isso eu gosto de pensar nos canais de comunicação. A maioria das pessoas é visual, então ter um material visual é o mínimo, não dá pra hoje em dia ir lá falar sem um recurso audiovisual, para isso existem templates na internet, se você não tem técnica para criar o seu, ou em último caso contrate alguém para isso. Não desperdice o seu tempo e oportunidade de causar impacto com um material improvisado. E pense na organização da sua apresentação, fazendo um rascunho, criando fichas, que depois poderão virar slides ou vídeos, mas comece com a ideia central e os desdobramentos. Não adianta chegar com um material lindo e sem sentido à sua fala.

17- Dentre suas referências, você cita 3 importantes nomes no tema liderança. Comente um pouco sobre as principais lições e ensinamentos extraídos de cada um deles: 

Paul Adler

Eu tive a oportunidade de fazer um treinamento de Leader Coach com ele quando esteve no Brasil e me encantei com a simplicidade que apresenta os conceitos de liderança. A ideia é liderar pensando no outro, empatia acima de tudo. Quanto mais eu conhecer o meu time, mais potencialidades vou descobrir e mais poderemos alcançar melhores resultados. Um líder tem que ter coragem para fazer o que é o certo. A maioria dos líderes que procrastinam por falta de coragem acabam abrindo a porta para ambientes tóxicos. O equilíbrio entre os profissionais, sem favorecer um ou outro, impacta nas atitudes e reciprocidades. Eu vivo elogiando um ou outro e os demais se sentindo desprestigiados, com o tempo você perde todo mundo, inclusive os que elogia. E a comunicação clara, já que liderança se trata de saberem o que você quer e para onde está indo ou levando o time. Se um líder não tiver essa clareza, provavelmente o time fica perdido e cada um vai para um lado, haverá dispersão e claro, perda de tempo e comprometimento do resultado.

Stephen Covey 

Eu consigo ver minha carreira antes e depois dos 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, ainda bem que li faz tempo. A ideia de buscar recursos internos e parar de focar no externo me deu uma perspectiva de parar de olhar pelos olhos dos outros. Quando centramos nossas vidas ou carreiras em outras pessoas, vivemos a vida delas. Eficácia tem a ver com colocar atenção em mim, no que eu posso fazer agora e principalmente no que eu posso melhorar comigo mesmo.

John Maxwell

Não muito diferente de Covey, eu vi que caráter faz um bom líder. Claro, estratégia é importante para o time saber quais caminhos vamos seguir, mas saber com quem está lidando, os seus princípios e valores é fundamental. Então para mim se tornar um grande líder passa por obter recursos de inteligência emocional mais do que habilidades como comunicação ou trabalho em equipe. Acredito que Maxwell tenha levado o conceito de liderança com suas obras para um outro estágio, justamente por trazer um olhar para as atitudes e comportamentos do líder. Hoje falamos de soft skills mas precisamos falar de uma inteligência espiritual acima de tudo, entender a alma da liderança, quais são os pilares, afinal as pessoas seguem o que você faz, seus exemplos, e não simplesmente o que você prega.

18- Você disse que teve como professores, Clóvis de Barros Filho (que foi seu professor no mestrado e que também ministrou aulas juntos depois na Universidade), e Karnal (seu professor na pós-graduação em Psicologia Positiva). Qual a contribuição deles em sua trajetória, aprendizagem, conhecimento e qual a importância do Karnal, ao seu ver, para a Filosofia e Psicologia Positiva no Brasil? 

O Clóvis que aprendi como ser professor. Eu já lecionava muito tempo, mas vivia um paradigma de que professor teria que se distanciar dos seus alunos, até entrar numa aula do Clóvis. Ele é de uma humanidade e simplicidade enorme. Sua generosidade em ensinar e a compaixão em elevar o nível da discussão de uma forma tão humana, que percebi que poderia me aproximar mais dos meus alunos e treinandos e hoje sou um facilitador diferente. A oratória do Clóvis é a essência dele, você o vê em qualquer situação e é ele ali, não uma personagem. Autenticidade se for definir numa palavra o que aprendi com ele. Quanto ao Karnal, eu tive a oportunidade de ter uma aula sobre gratidão que me fez inclusive escrever um artigo científico sobre isso. Ele me fez perceber, depois de muitos anos treinando as pessoas e suas emoções, que o pensamento é preponderante para ressignificar os sentidos e assim mudar os sentimentos e comportamentos, e tudo isso vi na Psicologia Positiva. Em outras palavras, hoje eu lido melhor com a inteligência emocional, indo por caminhos da filosofia e do conhecimento, sem perder a minha essência, que são as vivências. Se fosse definir, hoje sou mais filósofo do que neuropsicólogo por causa do Karnal.

19- A resiliência lida com o que é desconhecido, mutável, imprevisível e improvável – e tem consequências significativas. Quais são estas consequências e os respectivos benefícios para pessoas e empresas? E em especial, gostaríamos de saber de você: é possível treinar a resiliência? Como?  

Vamos começar pensando que o desconhecido em geral causa ansiedade, ou coisa pior. E porque gera ansiedade temos uma tendência de sofrer por causa do futuro, do que não podemos controlar. Eu percebo que a maioria das pessoas ansiosas gostam de controlar as situações e o incontrolável, os fatores externos não podemos prever. Então ter a capacidade de viver o momento atual, como chamamos o Mindfulness seria um excelente exercício para evitar a ansiedade e seus sofrimentos, já que penso no aqui agora. E a resiliência para mim tem mais a ver com adaptabilidade e flexibilidade do que prever esse futuro. Quanto mais planejar o contexto e fazer prognósticos podemos nos preparar para as contingências. Então uma boa maneira de melhorar a resiliência é se preparar para as circunstâncias através de um bom planejamento. Claro, ninguém previu uma pandemia, ou um caos, e aí entra a capacidade de flexibilidade de quanto podemos adaptar o planejamento dentro do momento modificado por um caos. Em outras palavras, quem não está preparado para o meio ambiente profissional (e pessoal) terá uma resiliência baixa, e será atingido por tudo que vier em sua direção. O resultado disso é travar, ou até mesmo procrastinar, esperando a situação melhorar. Quantas pessoas pararam na pandemia, sem saber o que fazer, e quantas outras fizeram pós-graduação online ou outros cursos, iniciarem seus projetos digitais, por ver naquele momento uma oportunidade e isso foi possível pela sua capacidade de flexibilidade e adaptabilidade, que podemos chamar de resiliência. Mas como diz a amiga Dra. Andreia Loures-Vale no livro Domador de Rinocerontes, Resiliência prevê voltar para o estado anterior antes do caos e não tem volta, então esse termo tende a ficar obsoleto quando percebemos que não é esticar o profissional e depois ele voltar, nunca mais voltamos ao que éramos depois de uma experiência. Então suportar pressão faz parte das competências e quanto mais flexibilidade tiver, mais pressão este profissional suportará. Portanto, a melhor forma de as empresas e profissionais serem resilientes é trabalhar os comportamentos que favoreçam a flexibilidade e adaptabilidade e que sejam treináveis através de vivências aplicadas e claro com a própria experiência. Talvez um jovem tenha menos resiliência do que alguém mais experiente e aberto às mudanças. A capacidade de crescimento quando trabalhamos estes comportamentos é ímpar, justamente porque as empresas que se adaptam melhor aos cenários continuam sua evolução, entendendo o mercado hoje e claro, amanhã.

20- Como seres humanos, podemos conseguir muito pouco a menos que trabalhemos juntos. É preciso a paixão e dedicação de toda a equipe para que uma organização alcance a produtividade total. Quando as pessoas se reúnem, elas desempenham o papel de elevar umas às outras para alcançar seus potenciais máximos. Como um líder pode estimular este sentimento de parceria e cooperação em uma equipe? E se pensarmos em home-office, o que muda? 

Quando penso em paixão me veem a Renta Spallicci, (VP da Apsen) e seu livro sobre times apaixonados (Sucesso é resultado de times apaixonados), que tive oportunidade de entrevistar para o meu programa Pessoas de Valor durante o TEDx que fizemos em Salvador. Ela falou de ter obsessão, e até aquele momento para mim, este termo era negativo, até conhecê-la. Um líder motiva sua equipe por suas atitudes e comportamentos. Não consigo separar um profissional de sua vida pessoal e portanto, um líder tem que pensar em parceria e cooperação desde a sua casa. Embora uma frase batida, não existe um bom profissional e uma má pessoa. Vem da essência este comportamento. Então quando ouço alguém falando mal da esposa ou filhos, eu já conheço boa parte dessa pessoa como profissional. Quando um líder é centralizador ele está demonstrando em atitudes que não confia no time. Invés de prepará-los, faz ele mesmo. Neste momento, manda uma mensagem errada para seu time. Quando ele percebe essa atitude, e podemos treinar para ele enxergar isso, as coisas fluem mais, porque ele prioriza o estratégico delegando as atividades para cada um da sua equipe valorizando as competências individuais de cada um. Hoje depois de lecionar um bom tempo nos MBAs sobre liderança, percebo que os profissionais vêm buscar conhecimento sobre isso, porque percebem que o time estagnou, justamente porque o líder não sabe mais ir adiante. Então, o trabalho em equipe parte de um princípio que minha equipe vai estar sempre evoluindo, mas parte de mim iniciar o processo. Se eu falar para o time treinar, e eu não o fizer, eu vou ficando pra trás e perdendo a segurança para crescer com eles. Em outras palavras, um líder faz o time cooperar, cooperando com o time. Eu sei que aquele líder fez muitos crescerem profissionalmente, então quero fazer parte desse time. É um olhar na carreira que faz os profissionais pensarem em seus líderes, o quanto eles evoluem com aquele líder, não se trata apenas de remuneração. A maioria das pessoas que trocaram de empresas ou times recentemente foram buscar empresas ou líderes que contribuíssem com seu crescimento, inclusive pessoal. E muitos escolheram ganhar menos financeiramente, e pagar o preço dessa evolução profissional, sabendo que no longo prazo estarão melhores do que estão hoje, quase estagnados. A psicologia positiva traz um conceito de Flow para isso, que é alinhar minhas competências e meus desafios para estar bem e feliz com meu trabalho. Se me sentir desvalorizado, eu saio e busco algo que me provoque evoluir e ficar mais saudável.

21- Comente um pouco sobre sua experiência de se tornar este ano, um TEDx Speaker com o tema Neurociência e Comunicação.

Ser selecionado para palestrar ao lado de grandes nomes foi uma realização. Eu sempre indico vídeos para os meus alunos, então estar ali com nomes internacionais foi sensacional. Tenho palestrado pelo país para públicos diversos, mas sentir a aura daquele tapete vermelho é realmente realizador. Eu estudei (e estudo) minha vida inteira para levar conhecimento para as pessoas, e através disso, levar evolução para elas, melhor qualidade de vida. Então o TEDx deu uma coroada na minha carreira. Talvez para um jovem que se apresente ali tenha uma energia diferente, uma motivação diferente. No meu caso foi quase uma celebração de algo que dedico minha vida inteira para levar neurociência e comunicação para todos. Até hoje eu vejo palestras do TEDx, e agora me ver ali é muito prazeroso. Por outro lado, me vem a sensação de que estou começando agora, como os jovens que já pisaram lá. Eu me dediquei a estudar e melhorar diariamente, e agora com essa experiência me vem a sensação de reconhecimento de um trabalho, como se agora eu pudesse palestrar ao lado de grandes nomes com mais frequência. Estar no time do Palestras de Sucesso é um pouquinho disso, é sentir que estou começando agora, com uma experiência de 30 anos. É um jovem TEDx Speaker com milhares de livros lidos e horas aulas nas costas, preparado para mostrar para os outros como neurociência e comunicação são tão importantes.

22- Seria a criatividade, a chave que poucos usam para ter um atendimento ao cliente mais assertivo? 

Eu gosto de pensar que criatividade é o que nos diferencia dos outros, inclusive das outras espécies. Se não ativarmos essa competência, seremos mais um, poderemos ser substituídos por uma máquina ou por qualquer pessoa. Quando penso em atendimento me vem a percepção de uma comunicação mais empática, com um foco nas “dores” do outro. A busca na solução dessas “dores” entra com uma boa dose de criatividade, de sair do lugar comum. Eu sempre pontuo que a criatividade sem assertividade não é nada. Imagina um publicitário que criou um comercial super criativo, mas que não vende. Vai ser uma peça sem utilidade. A mesma coisa no atendimento, se eu não olhar para a solução, não adianta ser criativo. A criatividade muitas vezes é relacionada com o novo, com o diferente, mas também precisamos resgatar o viés da inteligência. Ser criativo é sair do automatismo, então seguir o script é importante, e até a  inteligência artificial consegue seguir esse script, a questão é que a humanidade está em perceber as entrelinhas e essa é a nossa principal capacidade. Quando pensamos que é uma das nossas principais competências, a criatividade pode sim levar a um resultado diferente, e melhor, para isso entender onde está aplicando essa inteligência.

23- O autoconhecimento seria a melhor ferramenta para encontrar forças e motivação quando tudo nos parece perdido e sem perspectivas? 

Sim, sempre! Autoconhecimento é perceber suas potencialidades através do seu próprio espelho e não dos outros. Muitas vezes percebo pessoas buscando motivação nos outros, no externo, quando ela está dentro. Então, para mim autoconhecimento é uma jornada sem fim, e sem volta. Se eu me comparo aos outros, mas não olho para as minhas forças não vou conseguir autoestima para seguir em frente. Por sinal, autoestima que tanto falamos tem muito a ver com esse enxergar e escutar. Quando eu fico olhando e procurando nos outros, eu me comparo e isso muitas vezes traz prejuízos. Um exercício de Mindfulness é olhar para dentro, quando você inicia uma prática de meditação ativa por exemplo, você se desliga dos outros e das pressões externas, os resultados são extraordinários. Se ver pelo olhar do outro é perigoso, porque nem sempre ele vai enxergar o que você tem de mais valioso dentro de você. A falta de perspectiva em geral é causada pela falta de um olhar no seu potencial, por isso sou contra autoajuda, porque nem sempre temos esses recursos para enxergar isso, e a ajuda profissional se faz necessária.

24- Lendário palestrante Ari Brito: gratidão por nos ceder um pouco do seu precioso tempo. O espaço a seguir está aberto para que você deixe sua mensagem aos leitores do blog.

É um prazer enorme estar aqui com vocês nesta jornada, com pessoas tão incríveis. Quando eu penso nas minhas decisões e quem eu me tornei vejo o quanto faz sentido estar hoje focado nessa carreira como palestrante. Como falei acima, minha jornada é longa, mas sinto a motivação de um jovem iniciando uma startup em cada projeto, em cada palestra e treinamento. Vejo pessoas que hoje me escutam e sinto que foi necessário eu me enxergar e me escutar para estar aqui. E isso é um pouco do que passo hoje nas minhas palestras, se você não se reconhecer, nem seu propósito, as pessoas não vão fazer isso por você. Obrigado.

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