1- Seani, muito obrigado por estar conosco. Você ajuda as pessoas a se reconectarem com o que são em essência. Por que isso é tão urgente hoje, ao seu ver?
Primeiro vou falar em números, só em 2024 mais de 472 mil trabalhadores foram afastados por transtornos mentais.
O Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quarto em casos de depressão, segundo a OMS.
Somente em São Paulo 112 professores são afastados por dia devido a problemas de saúde mental.
A partir de maio agora, entra a NR-1 em todas empresas , que as obriga a priorizar a saúde mental.
Existe uma pandemia mental que não é mais silenciosa, pessoas não estão suportando mais, mesmo tendo dentro de si todas ferramentas para viverem bem, os ruídos externos tem deixado milhares de pessoas vivendo um caos, e isso naturalmente reflete em todos aspectos da vida, profissional, nas relações familiares, um efeito dominó, se fazendo necessário todo tipo de intervenção consciente para um resgate dessas essências que distantes estão de si.
Esses são apenas uns dados, mas além disso tudo, eu ouço muito meu coração, e como já fui muito servido pela vida de diferentes formas, é necessário que eu devolva a ela, parte disso tudo.
2- “Artistas Humanos” têm impactado públicos diversos. Quais temas dessa palestra mais provocam mudanças perceptíveis em colaboradores e estudantes?
Não consigo definir os temas que mais provocam mudanças, pois como um tema acaba se entrelaçando no outro, acabam acontecendo catarses naturais em diferentes pontos da conversa, conforme o público e o momento emocional em que cada pessoa se encontra, e isso sempre muda, conforme o lugar, empresa. Essa é uma grande magia, eu acabo sendo arrebatado por muitas emoções das pessoas em diferentes pontos, é como uma sinfonia que se molda conforme o público que senta nas cadeiras, é bonito de viver e sentir o que acontece ali. (não sei se isso ajuda, mas realmente como é algo muito vivo, ainda não consegui distinguir o que mais impacta, pois tudo gera algo).
3- Em um ambiente profissional cada vez mais automatizado, como despertar a inteligência emocional pode mudar o jogo? O que significa, na prática, fortalecer a “partitura emocional” de uma equipe?
O despertar de uma inteligência emocional muda completamente o jogo, quando percebo e estímulo minhas ações e relações a partir de um lugar dentro de mim, que está sendo cuidado por mim, para permitir o fluxo natural da vida. Como esse lugar interno ele ainda é muito pouco acessado ou conhecido pela maioria das pessoas, as interações pessoais e profissionais ficam muito distantes da beleza e potência que podem ter, e esse acesso sim, muda muito todo jogo da vida.
Fortalecer a partitura emocional de uma equipe é um lembrete que faço convidando os mesmos a baixar o som do mundo externo, e realizar um mergulho em seu mundo interno, para se permitir SENTIR de verdade, antes da tomada de qualquer decisão.
Pois muitos profissionais /pessoas já vivem o modo automático, eles ainda não perceberam que o automático quem faz são as máquinas , a IA e outras milhares de ferramentas que temos e teremos cada dia mais disponíveis. Quando fortaleço, reconheço, conecto e amplio minha percepção de minha partitura emocional, entendo o ser único que sou, e a ligação que tenho com todo coletivo que me cerca, conseguindo assim dar uma contribuição genuína para qualquer coisa que eu faça parte, trabalho, família, relações…enfim.
4- A vulnerabilidade aparece como um dos temas centrais na sua entrega. Como ela pode ser usada como força dentro de organizações?
Eu não sinto como central, mas sim é tão importante como os demais, pois o sentimento de estar vulnerável todos sentimos, mesmo negando ele, e buscando imprimir uma força inabalável o tempo todo, principalmente no mundo corporativo, onde a exigência pelas metas e performances são por vezes inatingíveis.
Quando eu reconheço minhas imperfeições, quando tenho a coragem de ser imperfeito, quando reconheço que todo dia é realmente um novo dia, quando tenho a coragem de mostrar aos meus colegas e demais pessoas que não sei tudo, abro um campo gigantesco com possibilidades de aprendizados e trocas que potencializam qualquer coisa.
A vulnerabilidade é vista muitas vezes como uma fraqueza, justamente no mundo que exige força, mas quando entendo o que realmente é a vulnerabilidade e deixo ela fluir em mim, sem que eu tente esconder o que sinto, ela dá lindos frutos em todas organizações, pois coloca as pessoas como seres humanos, não como máquinas, e assim podem não saber uma resposta naquele momento, mas vão buscar encontrar e melhor resposta/solução para questão em pauta.
Para se permitir ser vulnerável é necessário uma coragem gigante, e muitas vezes sem orientação do que se trata ser vulnerável, pessoas vivem com máscaras por muitos anos, ou toda uma vida, atrasando o fluir de todas as coisas.
5- Você fala sobre o “permitir-se ser iniciante todos os dias”. Que impacto isso tem na inovação dentro de times?
Mesmo com 20 anos de experiências variadas nas minhas escolhas profissionais, eu sempre estou iniciando todos os dias, foi isso que aprendi, principalmente estando ao lado de Fernanda Montenegro, na época que filmamos ela tinha uns 86 anos, e sentia frio na barriga todos os dias quando chegávamos no set, a mesma curiosidade de uma menina iniciante.
Adotei isso para minha vida e palestras, pois por muitas vezes o tempo de experiência que é adquirido ao fazer uma atividade/profissão distancia a pessoa de descobrir todos os dias novas possibilidades, pois está preso a conceitos antigos, que já viu ou viveu, e isso é muito negativo para qualquer negócio, e para vida de qualquer indivíduo, principalmente no momento que vivemos, onde novas descobertas e inovações surgem para fomentar novas coisas no mundo.
Se fico engessado carregando comigo o que vivi nos últimos 20 anos, não dou espaço para o novo entrar, e esse novo, não são apenas informações externas, mas principalmente o reconhecimento do meu eu interno, o qual está ali adormecido, esperando que eu olhe para ele, que me comunique com ele, e o “começar todos os dias” dentro dos times traz o frescor e novidade de um lugar chamado intuição/coração, quando nos permitimos viver isso, é muito bom tirarmos algumas certezas e pisarmos no solo das incertezas.
6- Em tempos de desconexão, como sua palestra promove um reencontro genuíno entre as pessoas de uma equipe?
A proposta dentro de todos grupos que participo é o “caminho de volta”, realmente a desconexão é muito grande pois os olhos estão apenas conectados ao mundo de fora, que tomou uma proporção sem escalas.
Quando estabeleço no momento que estou com os grupos/ pessoas a atmosfera que convida a reconectar-se com pontos fundamentais que habitam em todos nós, e o mais bonito, é que possuímos sim tintas/cores/emoções que se completam numa grande tela da vida, e esse é o reencontro, pois ao sentir/despertar para um mundo genuíno dentro de mim, todas minhas relações se ressignificam, portanto o fluir de um time/equipe, passa a ser o que sempre deveria ser: lugar de colaboração e entendimento que as trocas com outras pessoas/cores/tintas, tornam a vida, o dia a dia, as metas da equipe, MUITO mais simples e com resultados incríveis, dentro e fora de cada um.
7- Como o senso de pertencimento trabalhado na palestra contribui para o aumento de colaboração e engajamento?
Todos lugares onde tem grupos de pessoas/profissionais naturalmente deveria ser um lugar de pertencimento, mesmo isso por muitas vezes não acontecendo, pois ali é um coletivo de mentes e corações que na “teoria” apontam para objetivos e resultados em comum.
Se eu não sinto que faço parte daquele lugar ou grupo, naturalmente o engajamento em qualquer proposta não se dará de forma natural, fluida como deve ser. Todo ambiente necessita de pessoas inteiras, e a partir do sentimento e reconhecimento do meu EU, consigo pertencer aquele lugar, se estiver alinhado ao meu servir.
8- O que muda quando as pessoas aprendem a criar a partir de si mesmas — não apenas para cumprir metas?
Quando as pessoas aprendem a criar a partir de suas tintas, elas experimentam o encanto e magia de não ser nem o início, e nem o fim, mas sim um meio de servir ao próximo/negócio de múltiplas formas, não se limitando a cargos, funções, títulos e outros rótulos, mas sim eternizando sua passagem por todos ambientes que cruzarem, e deixando contribuições realmente magníficas e únicas.
(Continua na parte 2…)
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