1- Paula, obrigado por compartilhar seu tempo e experiência conosco e os leitores, é uma honra pra nós receber uma profissional de nível tão elevado. Para começar, conta pra gente, o que significa, na prática, viver e trabalhar em sintonia com a própria natureza? Como fazer isso, de fato?
A palavra Harmonia é de origem grega “Harmos”=juntar, na música por exemplo, simboliza uma junção ordenada e agradável dos diferentes e das diferenças muitas vezes contrastantes complementam-se ao se juntar.
É assim na natureza.O que acontece “fora” também acontece “dentro”. A natureza reflete perfeitamente o senso de Unidade.
Atualmente vivemos em um contexto de separação, de dualidade que impede de manifestarmos a nossa verdadeira essência, perdemos a autenticidade de viver a vida de forma plena e coerente com nossos valores e princípios.
A natureza de “fora”nos ensina o tempo todo a nos conectar com a natureza de “dentro”, e se despertamos nosso olhar, escuta, presença e abertura para essa aprendizagem, naturalmente a transformação acontece.
No meu caso, cresci em contato com a natureza e trouxe isso em minha vida e atividades diárias, trabalho com educação, auto-educação para que possamos viver em harmonia em um mundo que coletivamente desejamos viver.
Aprendi com a natureza, a transformar por meio do meu trabalho e escrita: desastres em oportunidades, tristezas em solução, medos que paralisam em coragem (cor=coracao, agem= agir), colocando nossos dons e talentos à serviço do planeta, sempre trazendo a natureza simbólica em uma relação dinérgica com a natureza real.
Trarei exemplo prático para elucidar melhor esse contexto:
Aprendi com a “aranha” a importância dela na natureza, para a biodiversidade e vida no planeta, mas também ser a tecedora da minha própria história, poder escolher tecer a minha teia em locais que me permitam enxergar uma situação em diferentes ângulos;
o mesmo com a cigarra, representando a nossa voz interior;
o grilo a flexibilidade que podemos ter nas diversas situações da vida; a minhoca com o retorno às suas raízes… e assim vai.
Pensando nas plantas de uma floresta, suas raízes se conectam embaixo do solo, em uma relação de interdependência, onde caso ocorra um incêndio devastador na superfície, após o tempo necessário novas formas nascerão, bem mais “verdes” mas as raízes permanecem as mesmas, assim é com os seres humanos…
Em meu trabalho trago uma linguagem bastante metafórica e também dinâmicas reais e concretas que realmente possam fazer com que “o outro” (desde criança ao idoso, organizações e governos), possa se conectar com a (sua) própria natureza e brilhar com ações conscientes em benefício do TODO!
Nessa relação entre o plano “invisível” (socioemocionais) e visível (ações ambientais) a natureza aflora de forma natural e espontânea.
2-Você fala sobre o “Efeito Borboleta” como inspiração para mudanças profundas. Como pequenos gestos podem transformar realidades complexas em empresas, escolas e comunidades?
Falo com propriedade sobre o “Efeito Borboleta” por ser um case real de inspiração. Em minha trajetória tenho como comprovar que pequenas ações geram grandes transformações:
No dia 19 de fevereiro de 2023, uma tragédia devastou a cidade de São Sebastião, no Estado de São Paulo.
Um temporal histórico provocou deslizamentos de terra que causaram 64 mortes, mais de 4.000 famílias desabrigadas e muita destruição por toda a região.
Os efeitos desse acontecimento impactaram diretamente na educação, além da saúde e bem estar, moradia, meio ambiente, segurança e economia.
Cresci nas praias do litoral norte e na época fiquei bastante abalada com a situação, buscando a melhor forma de poder ajudar entre tantas mobilizações que estavam acontecendo.
Encontrei a oportunidade ao responder um post da prefeitura, buscando recreacionistas para trabalhar com as famílias desabrigadas, trouxe à eles o programa de educação ambiental que tenho com a trilogia “Atequenfim” de minha autoria, com o intuito de “atrair vida e a alegria de viver” (após o trauma coletivo) nas escolas públicas, com a historia dos livros e com os “bichinhos de jardim”, em especial, sobre a transformação da borboleta.
Acabei também idealizando e implementando em parceria às Secretarias Municipais de Educação, e de Meio Ambiente, o Projeto “RegenerAção em São Sebastião” – o qual teve como objetivo facilitar ações prudentes em âmbito socioambiental, a fim de contribuir com a regeneração ecossistêmica (a nível individual, coletivo e ambiental) da cidade de São Sebastião por meio da educação.
Projeto esse que capacita crianças, jovens e adultos para atuarem como protagonistas e agentes mobilizadores, aptos a gerar transformação em seus territórios.
Um projeto que iniciou como uma contribuição voluntária e está em seu terceiro ano consecutivo, impactando toda a comunidade, unindo sociedade civil, empresas, secretarias em um único propósito: a RegenerAção. Restauramos áreas degradadas com bolas de sementes nativas, criamos jardins de polinizadores para atrair vidas, … os benefícios são imensuráveis, vencedor de prêmios e impacto para a ampliação nacional e internacional.
Se eu pude ser essa “borboleta” todos também poderão e é isso que trago como missão e propósito: “Gerar grandes transformações por meio de pequenas ações!”
3-Na sua visão, quais são as diferenças mais marcantes entre liderar para resultados imediatos e liderar para regeneração e legado?
Liderar para resultados imediatos é estar centrado em metas e curto prazo, indicadores rápidos e entregas tangíveis no menor tempo possível.
É liderar para uma abordagem movida pela pressão por desempenho, muitas vezes baseada em eficiência operacional, redução de custos e aumento de produtividade.
Privilegia decisões que maximizam ganhos rápidos, mesmo que impliquem desgastes, uso intensivo de recursos ou menor atenção aos impactos de longo prazo.
Liderar para regeneração e legado é assumir uma postura de liderança, orientada por uma visão sistêmica e impacto duradouro.
O foco está em criar condições para que pessoas, comunidades, organizações e ecossistemas prosperem ao longo do tempo, até mesmo após a saída do líder.
Não lideramos com a intenção de ver o resultado pronto, mas sim no processo. Isso envolve nutrir relações de confiança, cuidar do capital humano e natural, investir em processos que se renovam e em práticas que fortalecem a resiliência.
É uma liderança que busca devolver ao sistema mais do que retirou, construindo uma herança positiva que continue gerando benefícios para as próximas gerações.
No primeiro caso, o líder age com mais rapidez e foco na meta principal do resultado imediato, já no segundo o foco está no processo, pois ele sabe que às vezes o resultado demorará anos para aparecer, e muitas vezes subjetivos e intangíveis.
Ao meu ver também a liderança regenerativa é mais “servidora” (“Ser viçoso”), enquanto a imediata é mais direcionada ao “trabalho”.
4- Uma realidade muito comum no meio corporativo é que muitas equipes são competentes tecnicamente, mas não conseguem trabalhar de forma colaborativa. Que tipo de experiência ou dinâmica desperta o senso real de pertencimento?
Acredito que dinâmicas colaborativas com “cases reais” para se resolver, trazendo um grupo multissetorial, diverso e sistêmico.
Dinâmicas de observação, escuta ativa, presença faz quebrar barreiras de competitividade de preconceitos e medos de se exporem. Conhecendo e agindo juntos para um único propósito, solução ou demanda, gera senso de pertencimento e apropriação.
As dinâmicas necessitam inovar, fazer “diferente”, trazer uma boa dose de criatividade na forma de conduzir, promover espaços de diálogos e metodologias de prototipagem e cocriação.
Se puderem ser em espaços abertos e conexão com a natureza, melhor ainda pois o despertar acontecerá naturalmente primeiramente dentro de cada um e também coletivamente.
De nada adianta dinâmicas que discutem ou fiquem somente na teoria, é necessário algo prático, ou finais com metas tangíveis e clareza da responsabilidade de cada um para dar o próximo passo.
Às vezes trazer uma demanda “diferente” da que a organização necessita, auxilia a quebrar as barreiras do grupo para a real necessidade da organização que estará presente nas entrelinhas. Começar com uma dinâmica dessas, abrirá espaço e confiança do grupo para as próximas demandas mais direcionadas e imediatas.
5- Como as soft skills podem ser treinadas em equipes que estão acostumadas a trabalhar de maneira técnica e isolada?
Quando uma equipe está acostumada a trabalhar de forma muito técnica e isolada, é essencial que o desenvolvimento de soft skills comece por criar contextos seguros de interação e integração com propósitos claros para a colaboração.
Um primeiro passo pode ser introduzir dinâmicas que estimulem a comunicação, empatia e escuta ativa de forma orgânica para a resolução de problemas com cases reais, partindo do contexto individual (eu comigo) em duplas ou trios (eu com o outro) e ações coletivas (eu com os outros).
Para esse perfil, trabalhar problemas “abstratos” pode parecer “fora da realidade” e isso desmotiva o funcionário ou equipe antes mesmo de continuar.
Soft skills funciona como uma “isca”, em uma pescaria onde persistentemente e com paciência lançamos à água, esperando o primeiro “peixe a morder”, uma prática contínua e incorporada ao dia a dia, não apenas em treinamentos pontuais, assim com a introdução de metodologias colaborativas (design thinking, ágeis, teoria U, world café) ajuda a quebrar o isolamento técnico, criando situações em que o sucesso depende de interação, negociação e construção conjunta.
Com o tempo, todo “cardume” é capturado e a equipe percebe que as soft skills não substituem a competência técnica, mas potencializam seu valor e ampliam o alcance dos resultados.
6- Quais mudanças de mentalidade são necessárias para que empresas deixem de atuar apenas pelo lucro e passem a enxergar o impacto como parte do sucesso?
É preciso uma mudança de mentalidade e de paradigma que substitua a lógica de exploração pela de criação de valor compartilhado.
Isso exige compreender que resultados financeiros sustentáveis dependem de ecossistemas saudáveis, comunidades fortalecidas e relações de confiança e podem ocorrer a loooongo prazo.
A visão de curto prazo deve dar lugar a um olhar sistêmico e intergeracional, no qual impacto social e ambiental, se tornam indicadores estratégicos de competitividade, inovação e resiliência.
O foco principal sai da meta para resultados imediatos de um “egossistema” e passa para o processo, não atua mais “sozinha”, mas de forma interdependente, dinâmica e colaborativa para uma liderança “ecossistêmica”.
Essa transformação implica integrar métricas de impacto à tomada de decisão, reconhecer que propósito e lucro podem caminhar juntos e acreditar que empresas regenerativas deixam um legado positivo no mundo.
7- No projeto “Vibrando com a Música”, você quebrou barreiras de percepção. O que este projeto pode ensinar sobre como incluir sem precisar “rotular” ou segregar?
Aprendemos muito com esse projeto, em especial que a Música é vibração, é cura e é para TODOS, inclusive para os surdos. No início soubemos sobre os preconceitos “rotulados” que música é para “ouvintes”, que surdo “oralizado” tem preconceito com surdo “sinalizado” e vice-versa, no primeiro evento “Lolapalooza”em 2019, tinhamos surdos sinalizados e oralizados junto com “ouvintes”e nada disso foi lembrado quando a emoção maior estava em eles poderem e sentirem “parte” do evento e curtirem cada momento juntos.
Retomo que em minhas palestras e aulas sobre “escuta”, digo que aprendi a ouvir com os surdos, e essa escuta não rotula e nem segrega, somente une.
O que separa é a falta de oportunidade e de acessibilidade, o projeto traz esses dois pontos e assim quebra as barreiras que impedem de celebrarmos a vida com a alegria de sermos nós mesmos e CONVIVERMOS em Harmonia!!
8- Ao aplicar Soluções Baseadas na Natureza, quais transformações mais surpreenderam você, tanto no aspecto ambiental quanto no humano?
Para mim, o mais surpreendente no aspecto humano (social) é ver a transformação das pessoas, no início de um projeto até o final, a responsabilidade que assumem, a união do grupo, o senso de protagonismo, pertencimento, conservação e apropriação do tema que está sendo proposto.
Tornam-se verdadeiros agentes “semeadores”, “polinizadores”, “mobilizadores” guardiões da àrea e multiplicadores dos ensinamentos que adquiriram.
É muito gratificante saber de jovens que nunca colocaram a mão na terra por exemplo, pedir mais ações que possam se conectar, jovens saírem das drogas, se interessar por estudos, aprofundar alguma pesquisa, crianças com comportamentos agressivos se tornarem mais amorosos em um único dia, traumas coletivos (pós catástrofes) ressignificarem a forma de viver, expressões autênticas emergirem, com organizações: times estruturados, trabalhos em equipes e protótipos criados, sendo levados adiante.
Dons e talentos que afloram naturalmente e colocados à serviço do todo.
É simplesmente apaixonante vivenciar um encontro proposto. Ninguém volta igual ao que foi…
Na área ambiental, ver a transformação de uma paisagem degradada para novas vidas, um jardim polinizador atraindo insetos e outros animais, aves e outros animais se beneficiando dos corredores ecológicos, matas adensadas, florestas beneficiadas….
Difícil separar o social e o ambiental pois a natureza une o nosso interno com o externo, o campo invisível com o visível e assim tudo junto e misturado nos sentimos parte dessa teia da vida chamada: biodiversidade!
9- Você utiliza a Teoria U para facilitar processos de mudança. Como essa metodologia ajuda a transformar resistência em colaboração?
A teoria U é uma metodologia de liderança ecossistêmica, que traz principalmente que o sucesso de uma intervenção depende da condição interna do interventor, ou seja, trabalha aspectos internos com técnicas de observação, escuta e presença, com a mente, coração e vontade aberta, alinhando a atenção com a intenção e ação para mudanças regenerativas.
É um percurso onde a teoria da base à práticas vivenciais que despertam o indivíduo para seu melhor potencial.
Pessoas “resistentes” à mudança, acabam se transformando pois é um convite, nao é imposto, e nessa colaboração em conexão com a (sua) natureza, a “magia” acontece.
Pessoas resistentes começam a “abrir” uma brecha quando também trazemos que a Teoria U vem sendo aplicada em mais de 180 países e no Brasil, grandes empresas como Natura, Bosch, Suzano e Petrobrás se beneficiam com seus impactos.
Às vezes é importante trazer esses fundamentos para que a pessoa resistente aceite o convite de participar de uma jornada, pois se ficar só na teoria, acaba mesmo em utopia.
Participando não há como não colaborar, mesmo porque essa jornada inicia de forma individual (descida do U) e se torna coletiva (na subida do U) de forma colaborativa.
10- Em tempos onde muito se fala em ESG, o que diferencia um projeto socioambiental com impacto real de um que só “parece” transformador? Quais cuidados uma empresa comprometida deve adotar para que ESG não seja apenas uma sigla ou discurso e se torne algo de fato, efetivo?
Escrevi um texto sobre isso que foi publicado em meus canais de comunicação: compartilho aqui a minha resposta.
Nos últimos anos, o termo ESG, sigla para práticas ambientais, sociais e de governança, tornou-se recorrente nos discursos corporativos.
Relatórios promissores, selos verdes, metas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e até mesmo setores inteiros destinados a práticas socioambientais multiplicaram-se em empresas de todos os portes.
No entanto, apesar da narrativa otimista, a prática tem se revelado inconsistente.
A percepção de que faltam recursos para projetos ESG é comum, mas talvez a pergunta deva ser invertida: não estariam faltando bons projetos para os recursos já disponíveis?
A realidade mostra um desalinhamento profundo entre os projetos de impacto e os setores empresariais que desejam (ou dizem desejar) financiá-los.
De um lado, há organizações sérias, que enfrentam dificuldades para captar recursos mesmo apresentando soluções sustentáveis e socialmente relevantes.
De outro, empresas que buscam iniciativas ESG apenas como fachada, rápidas, baratas e midiáticas.
Essa lógica de ESG de palco, pautada em greenwashing e ações pontuais sem profundidade, desvaloriza a cadeia produtiva envolvida, ignora o tempo natural de maturação dos projetos e reduz o impacto real a uma questão estética.
Não é que falte dinheiro, é que falta conexão honesta entre quem faz e quem financia.
Enquanto algumas companhias exemplares de fato reorganizaram suas estruturas, enfrentando perdas e riscos para consolidar práticas sustentáveis genuínas, a maioria ainda resiste em enxergar o ESG como parte do core business.
Preferem soluções de curto prazo que garantam retornos de imagem imediatos, mesmo que ineficazes no médio e longo prazo. Pior: tratam os profissionais e organizações responsáveis por essas ações como meros fornecedores de conteúdo institucional.
A consequência é óbvia, projetos transformadores são descartados por “não caberem no orçamento”, enquanto se investe em campanhas superficiais que “parecem ESG”.
A verdade é que o ESG não fracassa por ausência de recursos, mas por falta de critérios e credibilidade nos projetos apresentados.
Um projeto de impacto precisa ir além do propósito, ele precisa ser compreendido como investimento e não como custo.
E para isso, deve apresentar indicadores confiáveis, dados transparentes, comunicação clara e alinhamento real com os princípios da empresa. Não basta inspirar, é preciso evidenciar.
As empresas estão em busca de projetos que entreguem resultados tangíveis, com metodologias sólidas e capacidade de mensuração do impacto gerado. Isso exige preparo, planejamento e, sobretudo, paciência.
Credibilidade não nasce do dia para a noite. Como na natureza, o processo é invisível antes de ser visível. As raízes de um projeto socioambiental precisam ser cultivadas com confiança, presença e consistência.
Muitos projetos fracassam não pela falta de valor, mas pela incapacidade de traduzir esse valor em linguagem empresarial. Falta uma ponte entre os mundos: entre quem idealiza e executa soluções de impacto e quem toma decisões de investimento nas empresas.
A solução passa por três eixos fundamentais: educação para ambos os lados, mecanismos de tradução de impacto em valor de negócio e mediação qualificada.
Empresas precisam compreender que projetos de impacto real exigem tempo, envolvimento comunitário, metodologias específicas e resultados que nem sempre são imediatos, mas que geram transformações profundas.
Projetos, por sua vez, precisam ser robustos em sua proposta e em sua forma de apresentação, com dados, metas e indicadores que comuniquem seu valor com clareza e transparência.
E é essencial que existam profissionais e estruturas capazes de fazer essa ponte, conectar realidades, traduzir expectativas, alinhar propósitos.
Ou seja, o ESG que realmente transforma não se resume a planilhas superficiais nem a discursos oportunistas. Ele exige maturidade, coragem e comprometimento genuíno.
A verdadeira escassez não está nos recursos financeiros, mas na vontade de construir relações autênticas e estratégias sólidas. É tempo de olhar menos para a vitrine e mais para a raiz, onde estão os fundamentos da mudança que se deseja promover.
11- Em momentos de crise ou mudança brusca, quais são as primeiras atitudes que ajudam alguém a reorganizar a vida sem perder a essência?
Para mim, a ansiedade, o medo do desconhecido, da perda, a dor, dúvidas e a incerteza geram paralisações em nossas atitudes. Nos separam da nossa verdadeira essência e fazem com que a crise aumente ou nos cega para enxergarmos novas possibilidades e saídas, novos começos…
Acredito que as mudanças repentinas, os contratempos e situações que não podemos mudar vem para nos trazer oportunidades para fazermos escolhas conscientes, muitas vezes o controle não esta mais em nossas mãos, e realmente não podemos mudar uma situação, mas podemos sim ESCOLHER como responder ou enfrentar esse período que nos parece tão desafiador.
Aqui acreditar e ter fé (não digo religiosamente) mas que estamos unidos à uma Fonte Maior que nos ampara e nos sustenta em nossa verdadeira natureza com a Natureza.
Compreender que temos a capacidade de transformar qualquer situação, que há um tempo de espera, mas que esta, é ativa e não passiva, e que o novo, pode parecer assustador, por ser ainda desconhecido, mas que se enfrentarmos a situação com CORAGEM que é “agir com o coração” novas portas se abrirão.
Paciência, aceitação, persistência e responsabilidade “abrem caminhos” e o mais importante é CONFIAR e nos mantermos em MOVIMENTO que a solução chegará às vezes de forma totalmente inusitada.
Devemos fazer a nossa parte, estarmos abertos a novas possibilidades, nos organizar interna e externamente, de forma que alinhados com a nossa essência, atraímos sempre que o melhor aconteça.
12- Como a filantropia pode ser integrada ao modelo de negócio sem perder a autenticidade e a essência da causa?
Um modelo de negócio que integra filantropia ao core business pode ser estruturado como “valor compartilhado” ou “impacto integrado”,
Quando nasce de um propósito genuíno alinhado à essência, este dialoga diretamente com as competências, cultura, princípios e valores da organização ou empresa, os recursos, são mobilizados para gerar impacto real, sejam acompanhados por métricas de impacto transparentes ou integrados ao planejamento estratégico, não apenas como ação pontual.
Ao incorporar objetivos socioambientais às estratégias e operação organizacional, a empresa transforma a filantropia como parte do seu “DNA”, fortalecendo tanto a causa quanto sua relevância de mercado, assegurando a coerência e a credibilidade.
O segredo para não perder essa autenticidade está em garantir que o propósito tenha coerência com a identidade e valores da empresa.
13- Na sua experiência, quais são os principais bloqueios que impedem pessoas e organizações de agir diante de problemas urgentes? Como lidar com essa problemática?
As empresas encontram-se aprisionadas em um sistema que insiste em medir-se pela lógica do lucro, que exige crescimento constante e exponencial.
A ilusão da “falta total de controle” gera medos de mudança, de falir, de sofrer, de passar novamente pela dor, do desconhecido e até mesmo do sucesso, medos de perder, de se constranger perante ao “outro”, medos que PARALISAM, impedindo de agir diante aos problemas urgentes …
Mudanças não são fáceis e não acontecem de um dia para outro e em tempos de “imediatismo”que estamos vivendo, queremos “milagres” e “fórmulas mágicas”para não passarmos pelo processo, que exige mergulhos e aceitação das nossas “sombras”, tempo indeterminado e incertezas…
Mudanças requerem escolhas e essas pedem que “deixemos ir” aquilo que não nos serve mais, para que a verdadeira entrega aconteça e permita “vir” o novo, a solução com nova forma, uma nova “roupagem”….
O segredo para lidar com essa problemática está em colocarmos em MOVIMENTO, fazermos a nossa parte mesmo com medo, com a coragem de enfrentar as mudanças e desafios e mergulhar nas profundezas de nossas raízes de forma consciente, para que os bloqueios possam ser derrubados e o novo futuro possa emergir com a certeza de que cocriamos uma nova realidade.
(Continua na parte 2…)
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