15-Pressão por resultados é uma realidade nas empresas. Como equilibrar essa pressão com a saúde emocional dos times, sem comprometer a performance?
Esse equilíbrio não é utopia — é inteligência organizacional. O que adoece não é a meta em si, mas a forma como ela é imposta. Quando há pressão sem propósito, cobrança sem clareza, liderança sem empatia, o resultado vem — mas junto com ele, o desgaste.
O segredo está em alinhar expectativa com cuidado. Em comunicar metas de forma transparente, oferecer suporte, celebrar avanços e abrir espaço para que a equipe fale sobre suas dores, não só sobre suas entregas.
Empresas que entendem isso colhem resultados sustentáveis. Já vi organizações baterem recordes de produtividade no mesmo ano em que implementaram ações estruturadas de saúde emocional.
Porque um time que se sente protegido, ouvido e valorizado trabalha com mais foco, mais coragem e mais vontade de fazer parte. Cuidar da saúde emocional não reduz performance — multiplica.
16- Disciplina e dedicação aparecem de forma sutil nas suas falas. Que papel essas virtudes desempenham na construção de uma liderança mais humanizada e resiliente?
Disciplina e dedicação são os bastidores da liderança real. Não são virtudes glamorosas, mas são as que sustentam as decisões difíceis, a constância nos valores e a firmeza emocional diante do caos.
Um líder que se dedica de verdade à sua equipe está presente mesmo quando não é visto. Ele se prepara para a reunião que ninguém valoriza. Ele dá um retorno com empatia mesmo quando está cansado. Ele mantém o respeito mesmo diante da pressão.
Já a disciplina é o que mantém esse líder íntegro. Ser gentil quando tudo está bem é fácil. Mas manter a escuta, a paciência e a presença mesmo quando o cenário aperta — isso é disciplina emocional.
Lideranças resilientes não nascem do improviso. Nascem da escolha diária de ser exemplo. E isso é fruto de dedicação àquilo que não aparece no crachá, mas que transforma tudo: a relação com as pessoas.
17- As empresas muitas vezes buscam resultados imediatos, mas a transformação emocional é um processo. Como você mostra que investir nesse caminho é, na verdade, uma estratégia de longo prazo com retorno consistente?
Muitas empresas querem resultados imediatos — e esquecem que a maior perda é a que não aparece nos relatórios. Afastamentos silenciosos, desmotivação crônica, rotatividade emocional. Tudo isso custa caro, e consome energia da organização por dentro.
Quando uma empresa investe em saúde emocional, ela não está “fazendo um agrado” aos colaboradores — está protegendo seu ativo mais importante: as pessoas. E pessoas bem cuidadas entregam melhor, erram menos, ficam mais.
Já vi empresas que, ao implantar programas de escuta, reduziram conflitos internos. Outras que, ao preparar lideranças emocionalmente conscientes, diminuíram o número de afastamentos. A transformação é real. O retorno é medido em clima, produtividade e reputação.
Transformar cultura emocional é como plantar uma árvore: não dá sombra no primeiro dia, mas depois protege toda a floresta.
18- Muitos profissionais têm receio de buscar ajuda emocional por medo de parecerem fracos ou descomprometidos. Como podemos romper com esse estigma dentro das empresas?
Romper com esse estigma começa com um movimento muito simples — e muito corajoso: alguém precisa ser o primeiro a falar. Alguém precisa mostrar que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de lucidez. E esse “alguém” precisa ser, de preferência, a liderança.
A empresa também precisa oferecer estrutura. Não adianta dizer “estamos aqui” se o colaborador não sabe onde buscar apoio. É preciso criar canais, estabelecer políticas claras, promover campanhas internas, oferecer suporte psicológico e, principalmente, criar uma cultura onde falar é permitido — e não punido.
Quando a vulnerabilidade é respeitada, ela vira ponte de confiança. Já vi profissionais mudarem de atitude só porque ouviram de um gestor: “Você não precisa aguentar tudo sozinho.”
É assim que o estigma começa a ruir: com escuta, com acolhimento e com ações consistentes. Porque cuidar da saúde emocional é, antes de tudo, uma demonstração de compromisso com a vida.
19- Ao longo da sua trajetória, qual foi o caso mais marcante em que você viu uma cultura corporativa mudar após uma palestra sua — e o que exatamente foi transformado?
Um dos momentos mais marcantes da minha trajetória aconteceu numa indústria do interior de São Paulo, conhecida por seu ritmo intenso, metas agressivas e uma cultura que valorizava o silêncio como sinal de força. Era um ambiente em que chorar era fraqueza, pedir ajuda era inadmissível — e adoecer, um problema “de casa”.
Naquele dia, fui convidado para falar sobre saúde mental com o tema “A Tempestade Emocional”. A palestra começou e percebi que muitos ali estavam desconfiados, com os braços cruzados, com aquele olhar que diz: “Lá vem mais um discurso motivacional.”
Mas bastaram os primeiros minutos — quando compartilhei minha própria experiência com ansiedade, os dias em que precisei parar o carro para não desabar dentro de uma empresa — para o silêncio mudar de tom. De resistência, passou a ser atenção. De ceticismo, virou identificação.
Ao final, uma colaboradora me abordou tremendo, chorando, com a voz embargada. Ela disse:
“Eu quase não vim hoje. Achei que era mais uma palestra como todas as outras.
Mas quando você falou que o corpo dá sinais e a gente ignora, eu senti como se estivesse ouvindo minha própria história. Hoje eu entendi que eu não sou fraca. E que eu preciso de ajuda.”
Na semana seguinte, ela procurou o RH. Foi ouvida com respeito, encaminhada para apoio psicológico e realocada para um setor onde pudesse se reequilibrar. Meses depois, recebi uma mensagem:
“Hoje lidero um pequeno time aqui. Nunca pensei que minha dor viraria força para ajudar outros.”
Aquilo me desmontou.
Mas a transformação não foi só individual. O impacto da palestra reverberou pela empresa. Diretores, que inicialmente tinham assistido com reservas, passaram a conversar com os colaboradores de forma mais próxima.
Criaram um programa interno de escuta ativa, estabeleceram convênios com psicólogos, iniciaram treinamentos de liderança emocional e, o mais bonito: incluíram a saúde mental como parte oficial da agenda mensal.
Antes, era uma cultura que premiava quem suportava em silêncio. Depois, virou uma empresa que passou a valorizar quem fala, quem cuida, quem acolhe.
E tudo começou ali. Com uma história contada com verdade.
Com uma fala que não pretendia salvar o mundo — mas que tocou uma vida.
E quando uma vida é tocada, o resto começa a mudar.
Foi ali que percebi, com ainda mais força: uma palestra pode não mudar o mundo. Mas pode mudar o mundo de alguém — e isso muda tudo.
20- A conexão entre saúde emocional e segurança no trabalho ainda é pouco discutida. Como você enxerga essa relação e por que ela deveria estar no radar das lideranças?
Essa conexão é profunda — e, infelizmente, ainda invisível para muitos. Durante meus anos atuando com Segurança do Trabalho, percebi que grande parte dos acidentes não acontece por falta de EPI, mas por falta de atenção. E a atenção vai embora quando a mente está sobrecarregada.
Um colaborador emocionalmente abalado perde foco, tem lapsos, toma decisões impulsivas. Ele está no ambiente físico — mas sua cabeça está em outro lugar. E isso, em áreas operacionais e industriais, pode custar vidas.
Segurança no trabalho não se faz apenas com treinamentos técnicos. Ela começa na prevenção emocional. Uma empresa que cuida da saúde mental do colaborador está, na prática, prevenindo acidentes, preservando vidas e protegendo sua própria estrutura produtiva.
Por isso digo com firmeza: saúde emocional é item de segurança. E toda liderança que ainda não enxergou isso está deixando um risco invisível circular livremente entre as equipes.
21-Para finalizar, Olizar, agradecemos imensamente sua contribuição. Que mensagem você gostaria de deixar para líderes e profissionais que estão à frente de equipes, mas ainda sentem que não sabem lidar com as emoções — nem as próprias, nem as dos outros?
A minha mensagem é simples — e urgente: liderar pessoas é, acima de tudo, liderar emoções.
Não se trata de saber todas as respostas, de dominar técnicas de psicologia ou ter discursos prontos. Trata-se de ter coragem para se humanizar. Para tirar a armadura. Para dizer, quando for preciso: “eu também não estou bem hoje” — e, ainda assim, seguir com dignidade e respeito.
Se você lidera uma equipe, lembre-se de uma coisa: você não comanda robôs. Cada pessoa que cruza seu caminho está enfrentando batalhas que você não vê. Há mães que perderam o sono, pais que se sentem cobrados demais e reconhecidos de menos, jovens com crises de ansiedade que escondem atrás de um crachá.
E sabe o que essas pessoas mais precisam? Não é de alguém perfeito. É de alguém presente. Alguém que escute sem interromper, que acolha sem julgar, que cobre com clareza, mas também com empatia.
Se você ainda não sabe lidar com as emoções, comece pela sua. Respire. Sinta. Permita-se aprender. A liderança que mais transforma não é a que tem voz mais alta — é a que tem escuta mais profunda.
Seja o líder que você precisou nos seus dias mais difíceis.
Seja o espelho do ambiente que você gostaria de trabalhar.
E nunca se esqueça: o que você silencia, sua equipe sente. O que você cura, sua equipe floresce.
Liderar com emoção não é sinal de fraqueza — é o ato mais revolucionário de coragem no mundo corporativo de hoje.
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