13- A resistência a buscar tratamento psiquiátrico ainda é grande no meio corporativo. Como sua abordagem nas palestras ajuda a quebrar o estigma de que “remédio é para quem não aguenta”?
Falo abertamente nas palestras sobre o uso de medicação e terapia porque sei o quanto o tabu adoece. Remédio não é para quem “não aguenta”, é para quem quer voltar a viver. Normalizar o cuidado é um ato de coragem, não de fraqueza.
14 – Você poderia compartilhar um caso ou situação marcante em que uma palestra sua gerou uma mudança significativa no comportamento de uma equipe ou liderança?
Em uma empresa, após a palestra, uma colaboradora relatou que finalmente entendeu que sua insônia não era fraqueza, mas um pedido de ajuda do corpo. Ela iniciou pequenas mudanças — sono regular, pausas e caminhada — e semanas depois relatou: “Voltei a sorrir.” Essa é a transformação que me move.
15- Como você sugere medir (ou ao menos observar) o progresso de bem-estar mental em equipe ou em indivíduos que participam de palestras ou programas — o que um líder ou colaborador pode observar no dia a dia?
O progresso é percebido nos detalhes: mais calma nas respostas, melhora no sono, diminuição das queixas e aumento da colaboração. Líderes atentos percebem quando a energia da equipe muda, o silêncio tenso dá lugar a leveza e propósito.
16 – Você já identificou perfis de pessoas que mais resistem à mudança (por ex: “o perfeccionista”, “o negador”, “o ansioso silencioso”)? Como adaptar sua mensagem para cada um desses perfis?
Os que mais resistem são o perfeccionista, o negador e o ansioso silencioso. Com cada um, a linguagem precisa ser adaptada: para o perfeccionista, falo de flexibilidade; para o negador, trago dados; e para o ansioso, falo de autocuidado e pequenas vitórias.
17- Como o conceito da “porta de entrada” da mente pode ser aplicado ao dia a dia corporativo? O que o colaborador está “deixando entrar” que sabota sua energia mental?
A porta da mente precisa de filtro. Tudo o que deixamos entrar demandas, notificações, conflitos tem um preço, e esse preço é a nossa paz. Por isso ensino o ritual do portão fechado: ao encerrar o expediente, faça algo simbólico que sinalize ao cérebro que agora é hora de existir além do trabalho.
18 – Nos momentos de recaída (quando a pessoa volta a antigos padrões de stress, insônia ou crises), quais passos imediatos você recomenda para retomar o caminho sem se culpar ou se sabotar?
Recaídas fazem parte. Quando elas vierem, evite o julgamento. Retome o básico: respiração, sono e movimento. O importante é perceber o desvio cedo e voltar ao caminho com gentileza. O perfeccionismo é o maior sabotador da cura.
19. Para quem “já sabe o que precisa fazer” (ex: dormir melhor, comer bem, meditar), mas não consegue colocar em prática — qual intervenção ou ajuste interno costuma desbloquear essa pessoa para agir?
Muitas vezes não é falta de conhecimento, é excesso de autocrítica. O desbloqueio vem quando a pessoa entende que mudar não exige motivação, exige decisão. Ação gera clareza, comece pequeno e o impulso virá.
20. Em termos de criatividade e flexibilidade mental, como a mente esgotada “se fecha” e como reabri-la (mesmo que em doses pequenas) para evitar rigidez e esgotamento mental?
Uma mente exausta se torna rígida, como uma casa escura com janelas trancadas. Para reabrir, é preciso luz, pausas, música, contato com a natureza e sono reparador. Criatividade é filha do descanso.
21- No contexto das mulheres no ambiente corporativo, especialmente em cargos de liderança, que sobrecargas emocionais você observa com mais frequência? Quais estratégias você recomenda para lidar com elas?
As mulheres acumulam jornadas profissionais, familiares e emocionais. A sobrecarga vem do “ter que dar conta de tudo”. Ensinar essas líderes a delegar, descansar e acolher suas vulnerabilidades é essencial para que não adoeçam tentando provar seu valor.
22 – Em quem se cuida — mas que vive em ambientes tóxicos ou de alta pressão — como evitar o “contágio emocional” ou “vazamentos de estresse”?
Nem toda energia precisa ser absorvida. Pratico o que chamo de higiene emocional: limitar o tempo de exposição, praticar pausas conscientes e escolher com quem compartilhar o que sinto. O autocuidado é o antídoto contra o vazamento emocional.
23 – Burnout é tema recorrente. Como você diferencia “cansaço extremo temporário” de burnout clínico — e quais são os “gatilhos de alerta” que todo colaborador ou líder deveria conhecer?
Cansaço passa com descanso, burnout não. O burnout é um incêndio interno, mesmo dormindo a pessoa não recupera energia. Gatilhos de alerta: apatia, irritabilidade constante, queda de desempenho e perda de prazer em atividades simples. Quando isso acontece, é hora de pedir ajuda.
24- Para finalizar, que mensagem você gostaria de deixar para quem lê esta entrevista — alguém que talvez sofra em silêncio neste momento — e que mudança pequena ele(a) pode escolher hoje para evitar arrependimento depois?
Você não precisa mudar o mundo, só precisa arrumar um cômodo da sua casa mental hoje. Comece pelo simples. O arrependimento de quem adoece é sempre o mesmo: “Eu devia ter cuidado mais de mim.” A boa notícia é que sempre há tempo de reconstruir sua mansão interna com mais leveza, amor e presença.
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