1- Ivan, muito obrigado por disponibilizar seu tempo para esta entrevista.
É um privilégio poder ouvir alguém que transforma zonas de conforto em zonas de alta performance com tanta maestria.
Para começar, o que te motivou a sair da segurança da televisão para se jogar no mundo das palestras?
O que você aprendeu nesse processo que poderia inspirar profissionais que hoje se sentem presos à própria trajetória?
Bom, o que me inspirou foi justamente perceber a movimentação que a sociedade ia no sentido do desenvolvimento de marcas pessoais e na descentralização da informação.
Então eu vi que existia um movimento fora de TV e que eu não estava fazendo parte dele. É justamente a vontade e um senso de pertencimento de uma transformação genuína da pessoa e do profissional que me motivou a participar desse movimento.
E eu acredito muito que a gente de fato aprende. Quando a gente direciona toda a nossa atenção… A nossa atenção, intenção e a prática para algo que pode ser aprendido com muitos tombos, com muitos desafios, com muitos obstáculos, que foi quando eu migrei da TV para o digital.
Mas, depois de um certo tempo, você começa a perceber que todo esse esforço na transformação e na reinvenção de uma carreira, de fato, faz sentido.
Porque está conectado com novos padrões de consumo, com novas formas de produzir conteúdo, com uma nova audiência, com uma geração mais nova.
Então, assim, é se permitir, é apostar em si mesmo, sabendo que você vai passar por um momento de dificuldade, que é o momento de aprendizado, vai enfrentar obstáculos, mas a jornada, no médio e longo prazo, ela necessariamente sempre vai render bons frutos.
2- Sua palestra “Desobediência Produtiva” apresenta o tripé intuição, confiança e coragem.
Como você orienta profissionais a desenvolverem essas habilidades dentro de ambientes corporativos tradicionalmente conservadores?
O objetivo da palestra de desobediência produtiva, levando em conta esse tripé de comportamento, que é um conceito, na verdade, e de certa forma uma metodologia que eu sempre usei na minha vida.
Então, esse tripé que mapeia o primeiro passo com a intuição, o segundo passo com a confiança e o terceiro passo com a coragem, nada mais é do que um método para provocar cada indivíduo da corporação para que esses indivíduos tenham um senso de pertencimento maior dentro daquilo que lhes compete e consigam entregar resultados acima do esperado, beneficiarem a si próprios e, de certa forma, diretamente a corporação.
Nada mais é do que fazer com que as pessoas quebrem alguns protocolos e entreguem mais do que o esperado. E quando eu falo quebrar protocolos, é de repente mapear algo que está ao seu alcance e que você talvez não esteja enxergando.
Eu explico todo o método, dando o passo a passo de como a intuição é usada, ou seja, a intuição o tempo inteiro se comunica com você, só que você talvez não esteja preparado para ouvi-la, mas quando você está preparado para ouvi-la e você ouve a voz da sua intuição e tem uma ideia inovadora, muitas vezes você esbarra no segundo ponto, que é a confiança.
E aí te falta confiança porque você não está acostumado a mapear as suas características e a partir das suas características entender naquilo que você é bom e naquilo que você não é bom.
Então se você é um cara confiante e entende que a sua intuição conversou com você e você confia porque você pode colocar em prática, você vai para o terceiro passo, que é a coragem. A coragem nada mais é do que a tomada de risco, ou um risco mínimo para você apostar numa ideia que você sente, intua.
Intui e confia que pode ser boa, e aí os resultados exponenciais vêm dessa tomada mínima de risco, porque vamos combinar que a gente… Quando para, para querer buscar resultados fora da curva, fora do normal, você precisa necessariamente colocar alguma coisa em risco.
O risco é, se não der certo, vou assumir, vou lidar com ele, vou levantar a cabeça e ele gerou um aprendizado. Mas se der certo, você consegue, de repente, esse resultado exponencial que você tanto estava procurando.
Então, o objetivo é tirar as pessoas da zona de acomodação e fazer com que elas se sintam motivadas a entregarem mais do que o esperado usando a intuição, a confiança mapeando as próprias características e, se necessário, o terceiro passo, que é a coragem, que é a tomada de risco para colocar em prática uma ideia diferente.
3- Em um mundo de fórmulas prontas, sua abordagem valoriza o não óbvio. Que práticas você recomenda para quem quer pensar diferente, mas não sabe por onde começar?
Bom, eu acho que o primeiro passo para você ter uma abordagem diferente na sua vida é se conectar com fontes que necessariamente… Então, assim, é conversar com todas as pessoas, ouvir perspectivas inexploradas do seu círculo de amizades ou de pessoas que te cercam e, eventualmente, você nunca parou para conversar, para ouvir, para trocar uma ideia. É ser curioso o suficiente para entender de assuntos que, não necessariamente você está acostumado a abordar, mas que te geram um insight, uma provocação. É ter a curiosidade suficiente para ler temas diversos, entender de assuntos que você sequer se dava conta que existia.
Então, eu acredito que esse background e também estimular a sua criatividade por meio de uma prática de uma atividade esportiva, de um hobby, porque, no final das contas, eu acredito que todas as experiências que nós trazemos de vida, sejam elas conscientes ou inconscientes, elas fazem parte de um portfólio e de um HD que nós trazemos com a gente. Em determinado ponto, alguns pontinhos se conectam e vem uma ideia genial, surge um insight. Então, é.. É estar conectado com o momento presente, ser curioso, beber de várias fontes e tentar colocar em prática aquilo que muita gente duvida, por meio do método que eu expliquei, intuição, confiança e coragem.
4- Você acredita que há uma linha tênue entre desobedecer com propósito e simplesmente romper regras?
Como diferenciar essas atitudes na prática profissional?
Bom, quebrar regras pura e simplesmente para tirar vantagem delas é algo que definitivamente eu não apoio, não corroboro, não acho que é legal.
Então assim, furar a fila, passar no sinal vermelho ou ter algum tipo de vantagem burlando algumas leis e regras pré-estabelecidas não é por aí.
Quando eu provoco com o termo desobediência produtiva, que são palavras antagônicas, é justamente para, de cara, já gerar esse primeiro choque no colaborador.
Então, como você pode desobedecer? A sua rotina. Viciada, está monótona, está no automático e entregar um pouquinho mais do que esperado.
Se você quebrar alguns padrões de comportamentos do ponto de vista individual. Aí sim reside a reinvenção profissional e o senso de pertencimento que cada colaborador, precisa ter para gerar um propósito não só individualmente, mas para a empresa.
Então eu acredito muito que conectando pontinhos e estimulando esses pontinhos a pensarem diferente, a olhar de uma maneira mais criativa, a não só olhar, mas tentar enxergar o que existe por trás de situações rotineiras, mecanizadas, automatizadas, que você pode dar mais do que o esperado.
Então é se provocar, é se permitir pensar de uma forma diferente para entregar resultados exponenciais e não simplesmente quebrar regras para ter vantagem sobre outras pessoas ou sobre o sistema em si.
5- Em um mundo cada vez mais volátil, quais são os primeiros passos para alguém que deseja se reinventar, mas sente medo do desconhecido?
É olhar para dentro de si e mapear as próprias características, tanto as positivas quanto as negativas.
Então, é dar vazão cada vez mais para aquilo que você domina e é bom.
E, às vezes, as pessoas têm dificuldade, por ser tão óbvio para elas alguns comportamentos ou algumas habilidades que elas têm.
Então, às vezes, as pessoas se desmerecem. A grama do vizinho é sempre mais verde que a sua, né?
Mas, talvez, você tenha uma baita habilidade, seja repleto de soft skills e não consegue se valorizar.
E também tentar entender quais são aquelas habilidades que te faltam ou formação para que você possa correr nessa direção e fortalecer o seu perfil profissional.
Então, é basicamente isso. É o autoconhecimento. É procurar se mapear e entender quais são os seus pontos fortes e os seus pontos fracos e ter resiliência para admitir pontos fracos e melhorá-los. E também ter um entendimento…
6- Você fala sobre “quebrar protocolos internos”. Pode compartilhar um exemplo prático de como isso gerou resultados reais em alguma organização?
Olha, eu acredito que quebrar protocolos internos nada mais é do que você provocar um senso de pertencimento cada vez maior e reconhecer resultados de cada indivíduo de uma corporação.
Então, é simples quando você olha para empresas que estão disruptando o mercado, justamente pelo senso de pertencimento que cada colaborador tem.
E aí, eu acho que é muito fácil a gente se referir às big techs. Eu tenho contato muito próximo com pessoas que trabalham, por exemplo, no Instagram.
Lá eles não têm uma agenda para fazer entregas, necessariamente uma carga horária para cumprir, Existe uma liberdade para você trabalhar de onde você quiser, da maneira que mais te convir, desde que você entregue métricas pré-estabelecidas.
Porque essas empresas sabem gerar um senso de pertencimento desafiando os colaboradores e dando pequenas cotas de participação. Ou seja, o Instagram, por exemplo, é um case interessante, porque eu tenho contato e sempre.
Vou em atendimentos dentro do Instagram e o retorno dos colaboradores é, colaboradores é, a gente trabalha aqui, dá o máximo possível, faz uma entrega primorosa, porque a cada ano que passa, nós temos um ganho de ações do Facebook, do grupo Meta, que a cada ano isso vai somando e você tem uma opção de compra cada vez maior.
Ou seja, a avaliação constante do atingimento de metas e o senso de pertencimento proporcionado, pela própria corporação e com reconhecimento financeiro por meio de Stock Option,
Que é o que nós chamamos de atendimento financeiro. São um pedacinho da empresa. Todos, de certa forma, são sócios daquela empresa que gera esse canhão que a gente vê chamado Instagram.
Então, imagine se os colaboradores do Instagram não tivessem o nível de engajamento e crescimento do ponto de vista individual necessários para que a plataforma continuasse sempre se reinventando. Então, eu acho que o Instagram acaba sendo um bom exemplo.
A Cyrela também é um case super interessante. Que nós estamos no terceiro ano prestando o serviço internamente em company, numa educação em company, que a gente nota que existe internamente um desafio sempre de gerar provocações num dos segmentos mais complexos que existe, que é o segmento de vendas.
Pelo nível de competitividade, pelo rótulo que os corretores de imóveis carregam consigo mesmo, né? Porque todo corretor de imóvel, às vezes, é rotulado como o cara que não deu certo em outras profissões.
Ao desenvolver um trabalho justamente com o departamento de vendas da Cyrela, a gente tem montado a transformação que se gera por meio da criação de produtos de incentivo para aqueles que batem as metas, do nível educacional com fontes externas que é necessário para aumentar a bagagem de informação e de letramento desses corretores ao lidar com o público de classe A a classe C e D.
Então, esse tipo de iniciativa faz com que exista um investimento em mão de obra de corporações que querem permanecer na vanguarda, no caso da Cyrela, na vanguarda de vendas.
7- A motivação verdadeira não vem de frases prontas, mas de clareza de propósito. Como um colaborador pode reencontrar esse propósito em meio a pressões, metas e cobranças?
Eu acredito com um plano de ação claro, em que ele, colaborador, esteja envolvido, engajado e ele participe. É um reconhecimento para a evolução desse colaborador no curto, no médio e no longo prazo.
Então, assim, é importante as empresas entenderem que todo colaborador, hoje colaborador, pode hoje entregar um pouco mais do que o esperado. Mas será que a empresa está fazendo a parte dela?
No sentido de prover um material provocativo, um letramento, a promoção de encontros para entender quais são as dores e dificuldades desses colaboradores. Eu acho que é uma troca muito importante.
E é justamente aí que Desobediência Produtiva entra, gerando uma provocação nas duas pontas. Tanto na parte do contratante, que quer entender como ser mais assertivo para gerar um senso de pertencimento nesses colaboradores, quanto entendendo o ponto de vista individual de cada colaborador para saber de que forma ele pode dar mais.
De que forma você estimula esse cara a ser um pouco mais autoral, ter uma personalidade um pouco mais autêntica para contribuir de uma forma genuína para o todo.
8 – Você fala sobre intuição como um diferencial competitivo.
Em ambientes altamente racionais, como desenvolver essa habilidade de forma estratégica e qual o papel da intuição na tomada de decisão em um ambiente dominado por dados e métricas?
Os dados e métricas, eles de certa forma, eles vêm corroborar, os dados e métricas de certa forma, eles vêm chancelar, validar uma ideia que pode surgir por meio da intuição.
Eu acredito que existe muita criatividade que está arrebanhada nas corporações, mas que é pouco estimulada a ser revelada.
As pessoas hoje não podem, únicas e pura e simplesmente, se prenderem aos processos, que muitas vezes estão ultrapassados, engessados, a burocracia que atrapalha muito o andamento de algumas situações e principalmente a falta de valorização de…
De perfis que podem contribuir muito, só que pelo fato de não quererem levantar a mão para não serem julgados, estão em silêncio. Então, as corporações precisam ser um ambiente fértil em que cada um possa contribuir com o seu melhor, que é a criatividade.
Poxa, é simples, basta avaliar quantos colaboradores você tem que é bom em uma, ou duas, ou três, ou mais habilidades e que você sequer deu conta.
Talvez esse cara, ao dar uma ideia, ao diminuir o andamento de um processo, ele pode criar um novo protocolo, um novo algoritmo na sua empresa que você talvez esteja procurando no elemento externo. E está justamente ali o elemento de transformação, só que esse cara precisa ser ouvido.
Então, eu acredito que o papel das corporações é criar um ambiente saudável e estimulado para que as pessoas se sintam à vontade para contribuir.
(Continua na parte 2…)
Gostou do artigo? Imagine ter este palestrante em seu evento ou empresa! Clique no botão e peça uma cotação!