Palestras de Sucesso Entrevista Ana Rodrigues – Parte 2

17- Quais são as estratégias eficazes para gerenciar equipes que trabalham de forma híbrida, combinando trabalho presencial e remoto?

Gosto de entender o ambiente para opinar sobre isso, mas é importante nesse formato, usar uma escala definida e combinada, ter uma ferramenta de gestão de tarefas, tipo gestão a vista, para que a liderança e a própria equipe acompanhe a evolução dos trabalhos, os gaps e faltas. Além disso, promover encontros presenciais com pauta aberta para a equipe e fazer reuniões online de ponto de controle semanais, para não perder de vista a gestão dos projetos e poder intervir assertivamente e proativamente se houver gargalos. E claro, ter um momento individual, conversar com cada integrante. Sempre acho essencial saber mais sobre as pessoas exercendo escuta ativa, sendo mentora dos liderados. 

18- Como a aprendizagem contínua e o desenvolvimento profissional ao longo da vida são cruciais para se adaptar ao futuro do trabalho?

Não há como negar que conhecer, aprender, é ampliar seu horizontes para pensar e agir livre de crenças, logo, a aprendizagem contínua é estar o tempo todo um passo à frente. Quando estamos nos atualizando, não somos tão surpreendidos pelas mudanças, já sabemos que elas virão e assim, estaremos mais preparados para vivenciá-las. 

19- Promover o engajamento e a motivação dos colaboradores é um desafio recorrente na esfera corporativa. Quais medidas a liderança pode investir, no sentido de estimular o trabalho em equipe, promovendo maior produtividade e satisfação em cada membro do time por fazer parte da organização?

Motivação pra mim não é ato externo é de dentro pra fora, uma liderança não motiva ninguém. Nem a empresa. Como líder, posso incentivar as pessoas, estimulá-las, mas nada farei para motivá-las se elas não tiverem seus motivadores internos despertos e alinhados. Somos pessoas e pessoas se engajam com outras pessoas, com histórias e com razões comuns ou pelo menos parecidas. Pra mim, a liderança precisa promover relacionamento na equipe, ser disponível, atenta, com um olhar para o indivíduo, auxiliando cada um no atingimento de suas metas e permitindo que tragam seus propósitos para suas atividades. 

Se reúna com a equipe fora da empresa, faça discussões em ambientes diferentes e proponha uma nova forma de ver o trabalho e encontrar saídas para as questões. Permita que sejam propositivos e resolutivos. Sua equipe precisa ser estimulada a pensar soluções e não a trazer problemas para que você resolva. Trabalhar a equipe, sempre, mas também fazer a liderança é uma a um.

20- Há uma certa exaltação no mundo dos negócios, em relação a postura multitarefas adotada por determinados profissionais. Essa característica, na sua visão, deve ser de fato enaltecida, ou, ao contrário, pode ser nociva e trazer prejuízos com o passar do tempo? 

Cada um é um. Ser multitarefa e não ser conclusiva não é bom, mas se você for multitarefa e realizadora, tá tudo certo. Nosso cérebro na verdade, ao contrário do que muitos pensam, não foi feito para esses fazeres variados ao mesmo tempo. Por alguma razão, mulheres conseguem ser assim mais que os homens, talvez pelo exercício da rotina, mesmo. Seja qual for o estilo, eu tenho defendido cada vez mais a cultura do trabalho em tempo justo para se viver mais outras coisas. A mente precisa de tempo livre para criar, promover novos pensamentos e repensar sua propria jornada. É uma pena que as empresas ainda valorizem tanto as rotinas exaustivas e a competição de quem trabalha mais.



21- Que tipos de atitude uma líder precisa tomar para conquistar a confiança do time?

A resposta já está na pergunta: Atitude. Atitude confiável, atitude colaborativa, atitude de escuta. Ser cirúrgico nas análises, fazer as perguntas certas no sentido de mover a equipe para decisões. Confiar e ser confiável. Uma liderança precisa ter a equipe consigo e engajar, passa por ser verdadeira e fiel ao seu discurso. Sempre pensar na liderança um a um. Cada pessoa da equipe é um indivíduo e saber sobre ele é essencial para ser assertivo na forma de obter o melhor de cada um.

 

22- Certamente você é uma aficionada pela leitura, estou certo? Compartilha com nossos leitores, seus 5 livros de cabeceira e os principais insights de cada um. 


Gosto muito de ler, sim, sem dúvida. Meus livros de cabeceira são diversos. Há os novos, há aqueles que trago de volta com mais frequência e outros que vou colocando na prateleira para releituras futuras. Minha leitura preferida são os livros técnicos. Eles soam em mim como romance. Vou deixar aqui alguns títulos como referência e sugestão: Líderes se servem por Último de Simon Sinek; Neurociência para Líderes de Nikolaos Dimitriades (ainda lendo); Gênero e nossos Cérebros de Gina Rippon (bem provocativo) e tem um bem pequeno que é mais ficção mas que traz uma reflexão bem profunda sobre comportamento e resultado, um tema que sempre me encanta. O livro A Boa Sorte de Alex Rovira e Fernando Trias, vale a pena.



23- De que maneira a resiliência pode nos ajudar a lidar com as incertezas e mudanças constantes da vida moderna? E trazendo para o ambiente de trabalho,  como líderes e equipes podem se adaptar e se reinventar diante momentos de crise, queda e frustração?


Ser resiliente não é deixar de sofrer com as questões. A frustração faz parte porque geramos expectativas sobre as coisas, mas quando nos permitimos olhar a mesma situação por um outro ângulo, permitir uma nova chance e não se deixar abater pelo que não saiu do nosso jeito, isso é resiliência. Precisamos ter isso na vida e no trabalho. Não há uma só forma, um só jeito, nem o seu jeito, é sobre isso a resiliência e ela é necessária para nos desapegar dessa nossa mania de achar que estamos no controle de tudo. Líderes precisam desse exercício pois os momentos de crise sempre irão existir nas empresas. Seja por um motivo externo, político, econômico ou por um movimento interno. Se adaptar ou estar disponível para uma segunda chance é essencial para a liderança seguir crescendo.

 

24- Muitas vezes, o medo é responsável por “frear” trajetórias brilhantes. Um vídeo seu no YouTube nos chamou a atenção:  7 passos para superar seus medos e liderar com sucesso. Sem querer dar spoiler, mas já dando (risos), comente um pouco sobre essa questão do medo, como superá-los e liderar com sucesso. 

 

Pois é, o medo faz parte de todo ser humano. Quem não tem, quem não já sentiu um frio na barriga quando uma situação extrema exigiu de você uma exposição maior?

Medo é um alerta que nosso cérebro envia quando ele enxerga uma ameaça em algo, quando percebe que alguma coisa vai afetar sua segurança. O que eu oriento é que você escute seu medo, mas não permita que ele engane sua visão. Às vezes assumir uma nova liderança pode dar medo, assumir a alta gestão, pode dar medo, mas eu sempre convido meus mentorados nestes casos, a olhar a situação de fora, descolar da cadeira, da função para que você consiga enxergar a situação e tomar a decisão de forma mais segura.

Você é humana antes de tudo. Pergunte-se que gatilho está disparando esse medo, que sensação é essa e quando você já sentiu o mesmo? Diga a você mesma que agora você é capaz de encontrar a solução ou que você não tem mais vergonha de pedir ajuda para superar esse momento.

Perceba que o autoconhecimento será de novo cobrado aqui, então, siga buscando sobre você, sobre liderar a si mesmo e aos seus gatilhos e não tenha medo de ser você mesma. Quando a gente se mostra humana, encontramos acolhimento, apoio e inteligência emocional para lidar com as emoções que nos afligem. Isso é sucesso.

25- Muito tem se falado no mercado acerca das Hard Skills e Soft Skills. Conta mais pra gente, na sua visão, quais são as habilidades mais importantes para quem busca concretizar o sonho de empreender ou mesmo ser uma profissional de sucesso?

Vamos traduzir para competências técnicas e habilidades comportamentais para tornar mais simples nossa conversa. Uma profissional de sucesso na gestão precisa ter ambas.

As competências técnicas são aquelas aprendidas, treinadas. As habilidades comportamentais já vem no nosso pacote, na formação de nossa personalidade, diz sobre a forma como lidamos com nossas relações, com as adversidades e desafios.

Ao longo da vida esquecemos de dar atenção a elas e de desenvolvê-las como se estivéssemos prontas e como nossa inteligência emocional estivesse plena. Pois bem, não estamos e é por essa razão que habilidades como saber lidar com situações de pressão, promover relações interpessoais mais saudáveis, solucionar conflitos, são exemplos de habilidades que precisam estar em alta para qualquer profissional.

Se sua escolha for por empreender, a ênfase vai para resiliência, saber que ganhar e perder vai fazer parte de todo o começo e que desistir não deve ser a meta. Se a escolha for por trabalhar em uma organização, acrescente como um soft skill importante a proatividade e sua habilidade em se relacionar positivamente com as pessoas, um dos grandes gargalos hoje no mundo do trabalho. 



26- Durante o trabalho em equipe, é comum que os conflitos aconteçam. Muito embora alguns possam até ser encarados como enriquecedores e produtivos, na medida em que trazem novas perspectivas e propõem reflexões, há também aquele conflito nocivo, que prejudica o bom andamento dos trabalhos e a relação do grupo. Quais soluções você propõe para mediar esses conflitos e embates na empresa?

 

Tem um passo a passo para entender e mediar conflitos que trabalho em meus workshops de liderança. Diferentes pontos de vista são comuns, mas a forma de dirimir essas diferenças depende da disponibilidade das pessoas. Vou destacar aqui duas das principais ferramentas para a mediação que é eleger um mediador ou mediadora que ajudem as partes a compreender o todo e, fazer com os integrantes do conflito um parafraseamento ou recontextualização da situação, levando as pessoas a  analisarem o conflito por um novo ângulo. Costuma dar certo.

 

27- Ana Rodrigues, é notório que uma grande parcela de líderes apresentam enormes dificuldades em dar feedback para seus colaboradores. Quais estratégias e técnicas você aconselha para realizar um feedback de maneira assertiva?


Isso também é matéria de um dos meus workshops e tema presente nas minhas mentorias. Primeiro é importante entender que feedback deve ser rotina e não precisa esperar um sistema de RH ou a avaliação de desempenho do final do ano para fazê-lo. Uma liderança está construindo equipes, desenvolvendo pessoas, sendo tutoria e mentoria para seus colaboradores, logo, dizer que algo está excelente ou que precisa ser ajustado, precisa de frequência e simplicidade, datar o registro e fazer anotações sobre a conversa é importante. Não vou dar spoiler sobre minha forma prática e analógica de fazer feedback, mas deixo aqui a sugestão para que faça o seu modelo, crie seu formato ou no caso de empresas maiores, vale a utilização de softwares específicos para essa finalidade, como é o caso do Appus e o BetterWorks, por exemplo, mas, nada que uma boa conversa bem estruturada não funcione.



28- Lendo um de seus inspiradores conteúdos, encontrei a seguinte frase: “É preciso cuidar das pessoas, afastar as doenças emocionais que atingem em cheio ambientes de alta pressão por resultado e produtividade.” Isso me remeteu diretamente à questão da saúde mental no ambiente corporativo.

Muitas organizações já entendem a importância de se prezar pela saúde mental dos colaboradores, haja vista que o indivíduo saudável mentalmente, tem a tendência de trabalhar melhor e se relacionar com mais facilidade e prazer. 

Neste sentido, quais os maiores desafios que você tem percebido nas empresas, para manter a saúde mental de seus funcionários em dia? Quais ações utilizar para contribuir com a equipe? 


As empresas não estão sabendo lidar com o que esperam da produtividade, isso tem resultado em volume de exigências, tarefas e prazos curtos para a realização de atividades. O disparo de gatilhos de ansiedade nos profissionais torna-se então inevitável, especialmente naquelas pessoas com maior grau de autocobrança por prazos e metas.

Sei que elas são necessárias, mas definitivamente as pessoas não são máquinas e a velocidade de resposta de uma máquina, não será a mesma de uma pessoa. Precisamos rever o modelo de trabalho atual ou teremos cada vez mais doenças emocionais, afastamento por conta delas e menos resultados. Vejo que as empresas precisam alinhar o discurso e a prática, para terem maior efetividade nas suas políticas de clima organizacional.

29- Há uma frase do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, que ilustra bem a época em que estamos inseridos. A frase diz: “São tempos difíceis para os sonhadores”. Diante de uma das grandes crises da história, onde concomitantemente, recentemente tivemos que lidar com uma pandemia e uma guerra que fez estragos em esfera mundial, onde naturalmente nossos olhares se voltam ao caos, como ter uma visão além, descongelar nossos sonhos e ainda por cima identificar oportunidades?


Sempre houve em algum momento da história, se não da humanidade, da nossa própria vida, algo que nos desconcertou, nos desestabilizou, pareceu quebrar nossos sonhos. Mas é aí que entra a tal resiliência e a capacidade de rever a rota. Deixa eu contar um pedacinho da minha história aqui para exemplificar. Há 14 anos eu fiquei viúva. Isso aconteceu um ano depois de termos falido um negócio. As dívidas ainda estavam ativas, sendo pagas de forma bem difícil e eu estava apenas com uma consultoria em atividade e meu marido sem trabalho. Perder meu companheiro e grande amor, os negócios e a casa que tinha sido conquistada com muito trabalho, foi uma quebra material e emocional muito grande. Tive dias muito difíceis. Nada disso estava no roteiro sonhado pra minha vida, mas aconteceu e foi a resiliência, a inteligência emocional desenvolvida e a certeza de que tudo passa, que me fortaleceu e me fez recomeçar e desenhar uma nova trajetória. Eu consegui liderar a mim mesma em direção a uma saída. Tempos difíceis sempre irão acontecer, mas é a forma como olhamos para eles que fará a diferença no resultado final. Descongelar os sonhos não creio, mas construir novos é possível. Nós podemos continuar escrevendo nossa história e dar a ela o fim que a gente quiser. Desenvolva sua força interior, ela está aí, é só despertá-la.

30- A busca por uma mentoria é mais do que uma tendência, se trata de uma necessidade, especialmente para mulheres que almejam avançar na carreira. Quais características e habilidades buscar em uma mentora para garantir uma parceria produtiva?

 

Primeiro procure por alguém que tenha referência na área e que traga experiência em diversos modelos de empresa. Agende um encontro inicial para sentir se essa pessoa tem conexão com você. Por incrível que pareça, veja se há nela pontos discordantes do seu, pois a contradição nos leva a questionamentos importantes e nos provoca a mudança. Ter uma mentoria é incrível, ajuda na autogestão, eleva sua atuação a outro nível e te orienta em questões práticas de forma ágil, além de ser uma escuta para um papel que normalmente é muito solitário.  

 


31- Gratidão pela atenção e paciência, e sobretudo pela generosidade em compartilhar tantos ensinamentos. Deixe um recado para quem nos acompanhou até aqui. 

Eu que agradeço o espaço e a oportunidade de expor minha visão. 

Eu aprendi sobre liderança vivendo a liderança, sendo curiosa comigo e com outro, reconhecendo minha própria trajetória, ouvindo meus liderados, mas sobretudo, trocando impressões, ouvindo pessoas que tenho como mentoras. Deu tudo certo, segue dando e dará com você também. Acredite em você e na sua capacidade de ser para o outro uma inspiração. Faça disso mais que um cargo, faça da sua liderança uma missão.

Ana Rodrigues

Incentivadora do protagonismo feminino, da formação de líderes e equipes. Mentora, palestrante e facilitadora de workshops.

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