1- Adriana, é um prazer tê-la conosco. Muito obrigado por dedicar seu tempo para esta entrevista. De início, conta pra gente como você define a aplicação prática da inteligência emocional e sistêmica no dia a dia dos líderes? Quais são os primeiros passos que eles podem dar para integrar esses conceitos em suas rotinas?
Olá, o prazer é meu. Estas inteligências são fundamentais para uma vida saudável e para o sucesso sustentável de qualquer ser humano em qualquer relacionamento e carreira de sua escolha.
Contudo, as competências de Inteligência Emocional e Sistêmica são requisitadas em todas as atividades de liderança, sendo extremamente necessárias em todas as interações e decisões dos líderes.
Líderes precisam de Inteligência Emocional para detectar e gerir suas próprias emoções, pensamentos e comportamentos. Bem como, para notar as emoções e comportamentos de sua equipe e lidar com eles da melhor forma também.
Líderes precisam de visão sistêmica para perceber e prever o impacto de suas decisões em todos os públicos envolvidos. Assim, um líder não consegue desenvolver seu trabalho de forma eficaz sem este conjunto de competências.
O primeiro passo para isso é melhorar seu autoconhecimento. Precisamos ser melhores observadores de nós mesmos.
Conhecer nossos processos internos (pensamentos, emoções, impulsos para ação) para sermos capazes de gerir estes processos através de nossas ações e comportamentos, ao invés de reagirmos a eles no piloto automático.
Notar uma emoção que você está sentindo, nomeá-la e pensar sobre como lidar com ela da melhor forma possível, por exemplo, pode ajudar muito no alcance do objetivo desejado e prevenir uma reação automática que, muitas vezes, pode colocar negociações, relacionamentos e resultados a perder.
As técnicas de mindfulness que eu ensino, tanto nas minhas palestras e treinamentos, quanto nos atendimentos individuais, são excelentes para desenvolver essas habilidades.
Conhecer sua própria estrutura de personalidade, talentos, pontos fortes e a desenvolver, estilo de comunicação e tendências quando sob estresse, tudo isso ajuda muito no processo de autogestão e impacta na habilidade de gestão das relações.
Visto que, quando nos enxargamos com mais clareza, temos a possibilidade de nos autogerenciarmos melhor. E, quando conseguimos isso, também começamos a enxergar o outro com mais clareza, sem projetarmos tanto nossas questões.
Então, com uma visão mais clara de si mesmo e dos outros, se começa a ter melhores possibilidades de gestão das relações. O teste de personalidade e comunicação do Process Communication Model, incluso em todos os treinamentos da metodologia e nos meus processos de Coaching, Mentoring e Psicoterapia, ajuda muito na compreensão de todas estas questões.
E, após entender, o caminho é treinar as habilidades. Nas minhas palestras, os líderes já começam a desvelar sua estrutura de personalidade, talentos, estilo de comunicação, tendências sob estresse e já saem com insights poderosos para sua autogestão e gestão de suas equipes.
E, no que diz respeito a consciência sistêmica, ela também começa pela observação de si mesmo e dos outros, dos papéis que cada um ocupa em um sistema, a cultura, os valores e crenças, o conjunto de regras explícitas e veladas, a dinâmica de interação entre seus elementos.
É preciso que o líder tenha uma base de pensamento sistêmico, isto é, consiga compreender a realidade a partir dos princípios sistêmicos e entenda as diferenças entre sistemas saudáveis e adoecidos. Assim, conseguirá fazer os ajustes necessários para que sua equipe funcione como um sistema mais saudável e eficaz. Bem como, conseguirá tomar melhores decisões,levando em conta seus impactos sistêmicos em todos os stakeholders.
2-Você trabalha com líderes que estão à beira do burnout, ansiedade e depressão. Quais são as principais ferramentas que você oferece para ajudar esses líderes a gerenciar suas emoções e restaurar sua energia?
Com a base da Psicologia, somada às minhas diversas outras formações (Coaching, Mentoring, Psicoterapia Sistêmica, Psicoterapia Cognitiva Baseada em Mindfulness, Process Communication Model, Mindfulness para Desenvolvimento de Inteligência Emocional em Líderes, Dinâmica dos Grupos, Mestrado em Desenvolvimento de Inteligência Emocional em Líderes) e aos anos de experiência desenvolvendo líderes e equipes, eu consigo ter uma escuta muito treinada, um entendimento profundo e uma atuação prática ao ajudar estes profissionais.
Na grande maioria das vezes, eles estão se sentindo sozinhos e exaustos. Muito pressionados por metas, cada vez mais desafiadoras e sem ter com quem se abrir e buscar apoio.
É como se as pessoas se perdessem delas mesmas, na competitividade e exigência adoecedora de muitos ambientes corporativos.
Elas se desconectaram de sua essência, na busca frenética pelo crescimento de carreira e por bater metas nas quais, muitas vezes, não encontram sentido.
Muitos desses executivos priorizam totalmente o trabalho em detrimento das outras áreas da vida. Pouco a pouco vão, sem se darem conta, abrindo mão de sua vida pessoal, momentos com a família, amigos, lazer e até de seu tempo de sono e cuidados com a saúde.
Estresse, conflitos e desmotivação também costumam fazer parte deste contexto.
Então, ao encontrarem um espaço seguro e sigiloso, alguém em quem confiar, que está ali exercendo uma escuta ativa e não julgadora, inteiramente para lhe apoiar, já é um movimento de saúde.
E se este profissional tiver um entendimento de saúde mental e o domínio de técnicas e ferramentas corretas para instrumentalizar este líder na construção de uma vida e carreira mais saudáveis e equilibradas, sustentadas por competências chave de Inteligência Emocional, Sistêmica e liderança, aos poucos tudo vai melhorando.
É isso que eu faço pelos líderes com os quais trabalho: os acolho com empatia e os instrumentalizo, desenvolvendo suas competências de autoconhecimento, autogestão, conhecimento do outro, gestão das relações, visão sistêmica e liderança de equipes através de processos individuais de Coaching, Mentoring ou Psicoterapia ou de treinamentos realizados em grupos, dependendo das necessidades de cada um.
O Mindfulness, o Process Communication Model e o Pensamento Sistêmico são fortes aliados nestes processos de desenvolvimento, que normalmente passam por identificar gatilhos de estresse, sequência de comportamentos quando sob estresse, necessidades psicológicas não atendidas, valores centrais não atendidos, competências subutilizadas e competências que precisam ser desenvolvidas.
É comum encontrarmos necessidades psicológicas importantes não atendidas, o que leva a desmotivação e ao estresse. Assim como, é muito frequente detectarmos dificuldades de gestão das prioridades no tempo, de relacionamento com determinados membros da equipe e de manutenção do autocuidado. Então, meu trabalho passa por detectar estes gargalos, trazê-los à consciência e desenvolver as competências necessárias para saná-los.
3- Líderes muitas vezes enfrentam dificuldades em se comunicar de forma eficaz. Como o Process Communication Model® pode ajudar na melhoria da comunicação interna e na resolução de conflitos dentro das equipes?
Excelente pergunta! Bem, de forma resumida, através da observação de 5 elementos da comunicação: as palavras, o tom de voz, a postura corporal, os gestos e as expressões faciais, o Process Communication Model (PCM) nos ensina que existem 6 tipos ou bases de personalidade.
Cada um deles apresenta determinados talentos naturais, um estilo preferido (ou piloto automático) de comunicação e fontes de motivação (necessidades psicológicas) que, quando não atendidas, provocam uma sequência de estresse previsível.
O que acontece na maioria das vezes, com líderes que não conhecem o PCM, é que eles acabam utilizando o seu próprio piloto automático de comunicação e adotando o estilo de liderança preferido pela personalidade deles, sem levar em conta a personalidade e o estilo de comunicação e liderança preferida conforme a personalidade de cada integrante da equipe.
Isso não funciona! Gera desconexão, estresse, conflitos, má comunicação, erros desnecessários, desmotivação, desgaste e resultados aquém do esperado ou do que seria possível.
A diversidade de bases de personalidade é super importante nas organizações porque gera diversidade de talentos que são igualmente importantes e complementares.
Mas para gerir de forma eficaz uma equipe diversa, o líder precisa saber variar seu estilo de comunicação e liderança conforme a personalidade e as necessidades de cada colaborador.
É assim que um líder consegue gerar comunicação eficaz e sintonia na equipe! Sei que pode parecer trabalhoso, mas não é! O PCM nos ensina a fazer isso de forma muito prática, através da comunicação.
Trabalhoso é teimar em querer se comunicar da mesma forma com todos, não ser compreendido, gerar conflitos e desconexão! Isso sim desgasta e muito! O PCM vem para ajudar o líder a superar isso e a saber inspirar o melhor em cada um.
4- Muitos líderes lutam para motivar equipes que estão desmotivadas e desconectadas. Quais são as estratégias que você recomenda para restaurar a motivação e o engajamento dentro dessas equipes?
A motivação é algo interno, ninguém motiva ninguém, mas se o líder souber oferecer os estímulos corretos, ele pode contribuir muito com esse processo.
Estímulos errados podem, inclusive, resultar em desmotivar alguém dependendo de como a pessoa processa internamente aquilo que lhe foi oferecido. Portanto, o líder precisa conhecer os valores centrais, necessidades psicológicas e talentos de cada colaborador para saber oferecer os estímulos corretos a eles e, assim, ajudá-los a se motivarem.
Conhecendo os valores centrais e talentos de um colaborador o líder pode direcioná- lo a projetos em que esses talentos podem ser aproveitados e em que estes valores sejam contemplados. Geramos assim, a oportunidade da pessoa trabalhar com algo em que encontre sentido e em que se sinta competente e útil, isso é muito poderoso!
Gera engajamento e motivação no médio e longo prazo. E, conhecendo as necessidades psicológicas de alguém, pode-se criar uma rotina que as contemple.
Estar com as necessidades psicológicas atendidas recarrega as baterias dos indivíduos diariamente, evita estresse e os ajuda a estar no seu melhor para si mesmos e para os outros. Através de técnicas de Coaching, Mentoring, Mindfulness e do Process Communication Model, eu ensino os líderes a fazerem isso por si mesmos e por suas equipes.
5- Em tempos de crise, muitos líderes encontram dificuldades em manter a coesão e a eficácia de suas equipes. Como a inteligência emocional e sistêmica pode ser utilizada para liderar com eficácia em momentos críticos?
Em tempos de crise, saber lidar com o seu estresse e o estresse dos outros sem reagir ao piloto automático e piorar as coisas é fundamental para qualquer líder.
Nessas horas, saber ajudar a equipe a respirar fundo, se centrar, acessar suas competências para agir da melhor forma possível nos momentos de dificuldade, faz toda a diferença!
Enxergar o valor do outro mesmo quando ele erra ou discorda. Manter a empatia, a gentileza, a boa vontade, a abertura e o apoio mútuo. Enxergar as opções, seus impactos sistêmicos e direcionar o time para gerar resultados considerando tudo isso.
Para fazer estes movimentos, o líder precisa de competências de Inteligência Emocional e Sistêmica. Sem essas bases, o líder não consegue e a crise acaba afundando a equipe e, muitas vezes, a empresa! Com Inteligência Emocional e Sistêmica é possível sair do olho do furação fortalecido, com aprendizados e novas competências, o que chamamos de resiliência.
6- A promoção da saúde mental é crucial para a sustentabilidade das organizações. Quais são os passos que os líderes podem tomar para criar uma cultura que priorize o bem-estar mental e emocional de suas equipes?
Os líderes ajudam a estabelecer a cultura pelo próprio exemplo. Então, não ser workaholic e não exigir que seus colaboradores o sejam é fundamental.
Um líder que não abre mão dos seus momentos de autocuidado, alimentação de qualidade, exercício físico, sono, vida pessoal, lazer, está contribuindo para fomentar uma cultura de mais equilíbrio e saúde mental na sua equipe.
Um líder que não exige que as pessoas fiquem depois do horário, que levem trabalho para casa no final de semana, que respeita o tempo dos outros não chegando atrasado para reuniões.
Um líder que entende que erros fazem parte do processo de aprendizagem, que trata as pessoas com educação e empatia, que sabe estabelecer limites com respeito, solicitar as coisas com gentileza.
Um líder que conhece seus colaboradores, que os incentiva e desenvolve, colaborando para que construam uma carreira de sentido. Um líder que se importa com os outros e que sabe que os resultados se constroem através das pessoas. Este líder, certamente, está fomentando a saúde mental e emocional na sua equipe e organização.
7- Equipes diversas muitas vezes enfrentam desafios de comunicação devido às diferentes perspectivas e estilos de trabalho. Como a inteligência emocional pode ajudar a superar essas barreiras e promover uma comunicação mais eficaz?
Basicamente, ajudando as pessoas a desenvolverem a competência da empatia, para não se julgarem e enxergarem as diferenças como algo ruim.
Com empatia é possível perceber que, enquanto seres humanos, todos temos valor e que, apesar das diferenças aparentes, por sermos humanos, sempre temos muitas coisas em comum. Essa é a nossa humanidade compartilhada!
Quando desenvolvemos empatia, podemos desenvolver também a compaixão, que é a capacidade de nos colocarmos a serviço do outro.
Praticando ações que ajudem ou contribuam com o outro de alguma forma, conforme o que estiver a nosso alcance. Esse movimento de colaboração gera uma conexão muito importante. Todos saem ganhando com as trocas e aprendizados. Todos ficam mais fortes e constroem resultados melhores quando colaboram e se apoiam.
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(continua na parte 2…)
